mardi 19 mai 2009

Um interessante texto.

Luis Antonio Barreto é homem de sólida cultura histórica. Tive o prazer de estar com ele no Sergipe, junto a Rolemberg Dantas e Acrísio Torres. Embora eu não concorde, e eu sou bisneto de Justiniano de Mello e Silva, não posso deixar de publicar esse interessante texto de sua autoria.


Infonet Luis Antônio Barreto

Sergipe e o socialismo
31/05/2008, 11:15

A idéia do Socialismo, porquanto possa ter vinculações difusas no tempo, entrou no debate por todo o século XIX e tomou o século XX, mantendo um fundamento original, de subordinar o indivíduo à sociedade, por oposição ao liberalismo ou individualismo capitalistas. Alguns consideram o Socialismo uma doutrina econômica, pela igualdade, justiça social, valores que estão no seu âmago, na ampla divulgação que ocorreu, em paralelo ao Materialismo, ignorando, como ocorria com as correntes cientificistas, dogmas religiosos como a existência de Deus e a imortalidade da alma. Karl Marx traçou as linhas do Socialismo Científico, afirmando, dentre outras coisas, que a dialética não está no espírito, mas na história.
A difusão do Socialismo no Brasil coincidiu com a propaganda positivista e com aquilo que Silvio Romero, certa vez, disse tratar-se de “um bando de idéias novas”, que esvoaçou sobre as cabeças dos mais jovens. O historiador da literatura e crítico sergipano referia-se, por certo, aos estudantes da Faculdade de Direito do Recife, que tiveram em Tobias Barreto um líder, apontando para o fato de que, em Pernambuco, a renovação do pensamento ocorreu nos corredores da Faculdade, não nas salas de aulas. Sergipanos que estudavam Direito no Recife e Medicina em Salvador, na Bahia, participaram ampla e apaixonada discussão que acolhia, como tema recorrente, o Socialismo.
Em 22 de junho de 1890, o que significa dizer logo após a Proclamação da República, quando o Brasil estava sob um Governo Provisório, Justiniano de Melo e Silva, nascido em Sergipe, lançava em Curitiba, no seu jornal Sete de Março (órgão das reformas sociais) o Manifesto do Partido Operário do Estado do Paraná, defendendo o direito à propriedade da massa trabalhadora, como forma de independência e abastança, espécie de “coletivismo agrário”, que em algumas partes da propaganda compunha o Socialismo. Não foi o único caso da participação sergipana em questão política.
Ao que atestam alguns documentos bibliográficos, ao Partido fundado por Justiniano de Melo e Silva teria antecedido o círculo socialista, de Santos, em 1889, fundado por outro sergipano, Silvério Fontes. O grupo do qual participa prepara, em 12 de dezembro de 1889, um Manifesto Socialista ao Povo Brasileiro, que foi publicado 13 anos depois, em 1902, segundo o que diz Jaime Franco, em Santos, em 1942, ao escrever sobre Martins Fontes. O Centro Socialista de Santos editava um jornal – A questão social, cujo 1º número circulou com a data de 15 de setembro de 1895, que viria a ser uma das mais abertas fontes de difusão do Socialismo, afirmando, em seu editorial, dentre outras coisas, diz: “Desfraldando a bandeira do coletivismo reformista, propõe-se A questão social , sem paixões que considera antagônicas à idéia de progresso, a lutar tenazmente para que sejam mais rápidos os efeitos do movimento evolucionista científico, que deve dar em resultado a nova organização da sociedade.”
Em Aracaju o professor e homem de ciência Florentino Menezes, que em 1912 funda o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, sendo ele um estudante de Medicina, em meio de desembargadores e outros vultos locais, organiza, com seu tio, magistrado e intelectual Manoel dos Passos de Oliveira Teles, e com o poeta João Pereira Barreto, um Centro de Propaganda Socialista em Sergipe, em reunião de 19 de março de 1918. inicialmente anunciada para ter como local a Loja Maçônica Cotinguiba, e que acabou sendo feita no Salão de conferências da Biblioteca Pública, aquele tempo funcionando na Praça Tobias Barreto, atual Olímpio Campos, no prédio onde hoje está sediada a Câmara de Vereadores de Aracaju. No mesmo ano de 1918, Florentino Menezes publica O Partido Socialista Sergipano.
Foi com Orlando Dantas, na redemocratização de 1945, que o Socialismo ganhou cunho partidário, primeiro como Esquerda Democrática, depois como Partido Socialista Brasileiro, contando com um grupo que congregava intelectuais, profissionais de várias categorias, tanto na capital, como no interior, como Antonio Garcia Filho, José de Freitas Leitão, e muitos outros, entre os quais José Rosa de Oliveira Neto, que pode ser citado como um símbolo da organização partidária, até porque ele viveu e participou da segunda criação do PSB, na abertura política de 1979, que promoveu a anistia e permitiu o retorno do pluripartidarismo ao País.
Na atualidade o PSB está sob o comando do senador Antônio Carlos Valadares, homem de origem popular, nascido em Simão Dias, testado em mandatos e cargos públicos, sendo Prefeito de Simão Dias, Deputado Estadual e nesta condição Presidente da Assembléia, Deputado Federal, Secretário da Educação do Estado, Vice-Governador e Governador do Estado, e, desde 1998 Senador da República. Evidentemente que não se tem, conceitualmente, o Socialismo com as definições clássicas, que atraíram adeptos em todo o mundo, nem também há, hoje, confronto entre o ideário socialista e os dogmas do Catolicismo e de outras religiões. O Socialismo, na prática política, não é materialista e até promove atos de cunho religioso, como fazem todos os comunistas e outros partidários que formam a velha e sempre citada esquerda brasileira.
Quebrado o cisma que fez do Socialismo um bicho-papão, as idéias fundamentais de igualdade, como forma de justiça social, continuam vigorando e semeando esperanças, como se pôde ver no Encontro sobre Políticas Públicas, que o senador Valadares, seu filho Deputado Federal Valadares Filho, promoveram com cardeais do socialismo político nacional e com os quadros com os quais, na capital e no interior, os socialistas vão às urnas neste ano de eleição municipal. A contribuição dos sergipanos do passado repercute, ainda hoje, e servem de lição demonstrativa da capacidade que tem tido, nosso povo, de pensar o futuro.

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