Tempo, movimento, flora e fauna.
Por Wallace Requião de Mello e Silva.
Curiosidade; Jean Baptiste Lamarck (1809) Charles Darwin (1859) e Hugo De Vries (1848/1935), foram, pode-se dizer contemporâneos no século. Lamarck o primeiro a formular a tese evolucionista tendo como suporte três causas principais: o meio ambiente, a hereditariedade e o tempo. Darwin o mais conhecido propôs na sua tese publicada no livro “A Origem das Espécies” o evolucionismo como fruto da seleção natural, onde a luta entre as espécies e o meio, levaria necessariamente a extinção de umas, e permanência de outras forçadas à adaptação anatômica e funcional; e Hugo De Vries, botânico holandês, propôs como tese o mutacionismo. Esta ultima tese foi posteriormente estudada por T. Morgan (1910); Müller e Timofeeff-Ressousky. Eles estudaram com drosóphilas, pequenas moscas que se reproduzem a cada vez com 300 a 500 ovos que amadurecem em 12 dias, e que controladas em laboratório, em três meses podem gerar milhares de indivíduos e gerações propiciando a observação do comportamento genético. Os pesquisadores citados procuraram investigar se tais mosquetas sofriam mutações, formando raças dentro de uma espécie, oriundas, essas mutações, da exposição controlada aos raios X. Contra eles se opõe um capítulo da ciência médica, a teratologia, que procura provar que mutações genéticas não são vantagens; “ganhos” positivos, são, pelo contrario, perdas, deformações, monstruosidades tendentes à correção através das gerações. Na verdade as mutações celulares são falhas na diferenciação celular. Como vemos o tempo, é de máxima importância na observação das mutações, pois as há que se extinguem, e as condições devem ser as da natureza, pois isolados em laboratório, os “mutantes” não sofrem a ação de seus predadores nem das realidades ambientais, o tempo, a genética e o meio cósmico são fundamentais na formulação das teses sobre a vida. Embora, hoje, se conheçam mutações entre os vertebrados; peixes, aves e mamíferos, com perdas ou ganhos aparentes, elas aparecem, todavia sempre dentro de uma espécie especifica de seres vivas, e sempre reguladas, clara e insofismavelmente, pelas leis da genética. No campo da Microbiologia, permanece um mistério ao qual Guyton (1978) em sua “Fisiologia Medica” chama de “diferenciação celular”, ou seja, como é que a partir de uma única célula formada pelos gametas, por exemplo, humanos, pode-se gerar, conduzidos por sutis leis genéticas, tantos tecidos diferenciados, tecidos que geram tecidos, por reprodução assexuada (clonagem simples e esporulação) e “mutações” (na verdade diferenciações funcionais e estruturais controladas geneticamente) e consegue ordena-los anatomicamente, funcional e estruturalmente, definindo seu tempo de vida, tipo e código de reprodução especifica ao nível celular. É uma maravilha. Como um pinhão se transforma em pinheiro? Como a partir de uma semente, os tecidos vão se diferenciando, para formar as raízes, o madeiro, a casca, os galhos dispostos sempre na mesma seqüência e anatomia, o sapê (folhas espinhosas), as pinhas, e novos pinhões que gerarão novos pinheiros. E cada uma dessas células de cada um desses tecidos possui a informação genética de todo o pinheiro. Ë um mistério.
Tudo isso acontece sem a intervenção do homem; portanto, e não podemos esquecer, o homem não é uma criação de si mesmo, o homem não se fez. A vida se desenvolveu, ou surgiu, ou foi criada, sem o auxilio do homem.
Como para todos nós, geralmente aceitamos que o que nos difere de outros seres vivos, é a racionalidade, pois é justamente com esse particular dom (incriado) que nos será possível reconhecer que nos mistérios da vida há uma razão, uma intencionalidade, uma inteligência , uma vontade e uma sabedoria, que supera em muito o entendimento humano. Muito mais, foi essa sabedoria a criadora do homem e do seu entendimento.
Pode-se observar, que tendo o corpo humano, por exemplo 100 quatrilhões de células, ou seja uma verdadeira infinitude de seres vivos, que se alimentam, se reproduzem, se movimentam, e reagem, em ordenada e solidária “sociedade” num amalgama vivo em relação simbiótica constante que nos permite viver como seres e indivíduos, já percebemos que as coisas não se realizam como propuseram Lamarck, Darwin e De Vries, não há no microcosmo de nosso corpo uma luta pela sobrevivência interna, não há um mutacionismo desordenado, não há um “acaso”... Um acidente, na verdade, no caso de nosso corpo, o que vemos, é um profundo conservadorismo da genética, uma organicidade das estruturas histológicas, da anatomia, e das funções.
O século dezenove trouxe à luz outros nomes importantes para a ciência Genética. O Monge Gregor Mendel (1822/1884), o pai da genética, que analisou os fatores dominantes na transmissão genética e os fatores recessivos, estabelecendo pela primeira vez o “beaba” das leis genéticas. As leis de Mendel.
É claro que essas descobertas do século dezenove tiveram precedentes, a descoberta do microscópio e o interesse pelo “microcosmo” em cuja história intervém Galileu, Drebell, Jensen e Divini. Em 1665, Robert Hooke descobre pelo uso do microscópio as células estruturais da cortiça. Ele notou na cortiça minúsculas cavidades as quais chamou células. Mais tarde, observou-se, que essas células eram preenchidas de uma substancia azotada à qual, Nehemia e Marcelo Malpighi chamaram sarcódio, encontradas como se fora uma gelatina nas células vegetais. Assim, entramos no século dezenove: Brown (em 1808) descobre que há movimento nessa geléia (os movimentos brownianos). Purkinje, em 1840, substitui a palavra sarcódio por protoplasma. Em 1838, Schwann e Schleiden propõe a teoria celular e começamos a perceber que todo se vivo, planta ou animal, tem origem em uma célula, dela deriva, ou, em exceção, são produtos originados e elaborados nas células (vírus ou cristais protéicos). Com Hugo Mohl, em 1848, se descobre a natureza azotada do protoplasma. Em 1856, Leydig define a célula: como uma massa de protoplasma provida de núcleo. Em 1857 Virchow formula o famoso axioma : “Ominis cellula e cellula”; significando que toda célula tem origem em outra célula. À conclusão de Virchow, Flemming em 1881 acrescenta: “Ominis nucleus e nucleus”, significando que todo núcleo tem origem em outro núcleo, com o que significa que toda célula provém de outra célula preexistente. Estava assim descoberta a base física da vida conforme nos ensina Huxley (Thomas 1825/1895).
Mas o que é o protoplasma? Huxley nos ensina que é sinônimo dizer protoplasma e ser vivo, como já dissemos acima, ele é “a base física da Vida”. Não existe ser vivo que não seja formado de protoplasma, portanto substancia viva e protoplasma, são termos equivalentes. Encontramos no protoplasma de maneira constante: água, sais, gordura e hidratos de carbono. Mas, suas substâncias típicas, são os protídeos ou compostos albuminóides. Para surpresa dos cientistas uma analise química profunda, decompondo ao extremo o protoplasma nada encontramos nele que não seja encontrado nos corpos sem vida, exceto a própria vida neles encontrada, eis o mistério. O que é a vida? Carbono; hidrogênio; oxigênio; azoto; fósforo; enxofre e uns poucos elementos mais, nos diz Almeida Junior (1973). Esses elementos formam moléculas volumosas dispostas em arranjos especiais. Arranjos, que como a genética, têm leis próprias. Embora, os elementos que entram na composição dos seres vivos, sejam sempre os mesmos, as proporções e a maneira de associação de tal modo diferem que as variantes do protoplasma são praticamente infinitas, cada espécie de ser viva, cada categoria de célula tem o seu protoplasma, diverso de todos os outros, e, o que é mais, em continua atividade química, só interrompida com a morte.
E o núcleo? O núcleo é um corpúsculo inserido na massa citoplasmática (protoplasma). A constituição desse elemento celular é bastante complexa, formado também da massa protoplasmática apresenta os seguintes macro-elementos: A membrana nuclear; a rede de linina; as granulações cromáticas, os nucléolos e o suco nuclear. Para o nosso interesse ressaltamos a linina que é um filamento apresentado como em um rosário grânulos de substancia facilmente corável para observação microscopia conhecida como cromatina. O filamento de linina, com os seus grânulos, se enrolam, constituindo o novelo cromático. O filamento cromático do núcleo é constituído por segmentos ou alças que se unem pela extremidade e a cada um desses filamentos se dá o nome de “Cromossomo”. O cromossomo é, portanto um filamento de linina que como um rosário se constitui de um grande numera de cromômeros, ou melhor, dizendo, centenas de grânulos. Sabe-se hoje que o numero de cromossomos das células é constante em cada espécie, e nisso há uma chave genética, que proíbe a trasgenia inter espécies. Espécies diferentes não se reproduzem. No homem, por exemplo, há 46 cromossomos. Cada cromossomo é diferente dos demais e têm uma individualidade. Isso não impede que nas células eles sejam dispostos aos pares dois a dois, aparentemente iguais. No caso do homem são 23 pares e em cada par os dois elementos se assemelham um ao outro, como se fora uma fechadura, cada um correspondendo ao seu par semelhante. Por ser o caso mais conhecido popularmente, gostaríamos de lembrar que nas células da mulher (todas e qualquer delas) existe um par conhecido como XX, relacionado com a determinação do sexo. Nas células do homem (todas e qualquer delas) existe um par diferente conhecido como XY.
O cromossomo; repitamos, diz Almeida Junior, é um fragmento de rosário minúsculo apresentando muitas centenas de grânulos ou cromômeros cada um. O cromômero tem uma função especial, ao que se supõem cada um deles se relaciona com determinado atributo do organismo: cor dos olhos; dos cabelos; da pele; estatura; propriedades do sangue; caracteres psíquicos; etc e tal. Dos 46 cromossomos existentes na célula chamada “ovo humano”; que é formada pela “fusão” dos gametas; masculino (espermatozóide) e feminino (óvulo), os 23 cromossomos são oriundos da mãe, e os outros 23 do pai, mais precisamente: em cada par de cromossomos, um elemento é de origem paterna, o outro de origem materna. A intervenção, ou alteração resulta em anomalias. Se não for assim, minimamente casável, correspondentes, não haverá a fecundação. Se esse código de paridade não for realizado não há formação da célula ovo. Isso concorre para que espécies diferentes não se fecundem entre si. Como vemos, há uma harmonia entre o núcleo em seu código, assim como com o citoplasma, o que equivale a dizer que há um meio interno ideal e adequado no protoplasma de cada célula para a sua reprodução. Esse equilíbrio misterioso se fez sem a intervenção do homem.
Balbiani pela “merotomia” veio provar que o protoplasma contido na célula (citoplasma) e o núcleo são essenciais à vida da célula. Núcleos, sem citoplasma, e citoplasma, sem núcleo, não podem viver. A morte celular se caracteriza pelo desaparecimento dos movimentos Brownianos, ela não é capaz de crescer, alimentar-se, reproduzir-se ou reagir. Para cada núcleo um protoplasma.
Tempo e movimento nos remetem ao grande Aristóteles. Até hoje não foi possível apreender a essência da vida. Passados tantos anos de pesquisas cientifica ainda não se destronou a definição de vida proposta por Aristóteles. “Vida é automoção ou moção de si mesmo, espontânea e imanente”. A vida é movimento intrínseco ao sujeito que age que tem origem em si mesmo, e que surge espontaneamente.
Na verdade a ciência de hoje, ao analisar a vida das células reduzem suas propriedade biológicas em quatro quesitos: Movimento; sensibilidade (ou reação a “agentes” externos); nutrição e reprodução.
O estudo da reprodução celular, cujos códices (ordenações) se encontram no núcleo, mas parece ter estreita relação também com o protoplasma (meio celular), pois em uma ou outra célula da mesma espécie, a genética e o protoplasma se repetem, e em células de espécies diferentes se diferenciam uma das outras, é que vai nos dar, a presunção e a concepção da intervenção (racional) humana no arcabouço genético dos seres vivos, ao que hoje se chama ao gosto dos arquitetos, engenharia genética.
O melhoramento genético tem suporte bíblico, onde se lê que devemos guardar as melhores sementes para o plantio. Também se percebeu muito precocemente que o cruzamento de indivíduos fortes e saudáveis gerava filhos fortes e saudáveis. Mendel (trabalhando com vegetais) descobre as leis básicas da transmissão genética, e pelo controle dos cruzamentos, provou-se que se podiam gerar gerações inteiras com olhos azuis, por exemplo, sem, no entanto propor a intervenção física nas leis genéticas. Todavia o que estamos assistindo são a intervenção física quebrando tanto os códigos de segurança, como o equilíbrio protoplasmático, quando, experimentalmente interferiu transladando genes de uma espécie para outra, ou de um reino para outro, revolucionando um conjunto de regras que a vida teceu através dos tempos para sua própria sobrevivência e reprodução segura.
Nada me impede de supor que Gregor Mendel, ao contemplar as leis da genética pela primeira vez, sendo ele monge agostiniano, contemplativo das maravilhas de Deus, tenha concluído pelas três atitudes básicas e éticas diante da genética: A humilde contemplação de suas leis (a Ética das Sementes) de onde se podia abstrair o que se pode ou não se pode fazer em termos de ciência genética; a ousadia, como segundo passo, com a intervenção experimental nas leis observadas (transgressão das leis genéticas) o que poderia redundar em anomalias (pois da transgressão da lei natural não poderemos abstrair o Bem); e finalmente, a atitude de presunção, ou seja, de ensinar a vida, e “aperfeiçoá-la”, dizendo a Deus onde e porque ele “errou”.
Se desprezarmos a “Noite dos Tempos”, isso é aquele período conhecido como pré-história, este mundo escuro onde povoam as hipóteses sobre sua origem e aparência, e nos ativermos aos “Tempos Históricos”, isto é, aos tempos relatados pela escrita e após o aparecimento dela, fiando-nos nos relatos históricos, mais ou menos seguros, que cobrem seis mil anos, ou seja, quatro mil anteriores a Cristo e dois mil posteriores, o que veremos?
Veremos o obvio, nesse período, nenhum macaco virou homem, nem um peixe virou elefante, nem um tomate virou laranja, ou laranja virou banana. A genética foi extremadamente conservadora, mantendo o óbvio, cinco dedos nos homens, certo numero médio de pelos, trinta e dois dentes, 46 cromossomos, por exemplo. Ou seja, as leis genéticas, assim como as leis da nutrição, e as leis do “meio” determinaram o que pode e o que não pode acontecer entre seres vivos, pois tanto o envenenamento (quebra das leis nutricionais) como alguns tipos de quebra na reprodução (reprodução entre raças muito próximas umas das outras), resultando em seres híbridos; ou a inadequação total do meio ambiente; levam ou levarão, à morte através do tempo. Sofrerão, e essa é a verdade, o controle tirano do tempo.
A transgenia é uma quebra experimental das leis genéticas. É uma transmigração de genes de espécies diferentes, uma transmigração de genes de reinos diferentes, (animal e vegetal, por exemplo), como nos ensina, por exemplo, o geneticista Aspad Postat (2004), numa ousadia humana sem limites e muito de irresponsável.
Para que você, que me acompanhou pacientemente neste longo texto, melhor entenda, pense que se as chaves de segurança da genética fossem naturalmente abertas, uma índia, no seu período fértil, ao banhar-se em um lago, poderia ser fecundada pelo liquido espermal de um sapo, por exemplo. O que nasceria? Ou se você preferir imagine um campo repleto de arvores frutífero, e flores, ao chegar à época da polinização, um suave vento misturaria em todas as direções os muitos polens, e as laranjeiras cruzariam com as macieiras e essas com os tomateiros, ou flores, ou frutos. Pior se as moscas, as abelhas cruzassem com as plantas, e as plantas com os mamíferos, e os mamíferos com os homens. Ou, ainda pior, os homens com os peixes, e os peixes com os plânctons. A cada temporada essa revolução se repetiria, e já não saberíamos o que éramos, ou o que seríamos. O que deveríamos comer, ou não comer. Transgredir a lei genética ou não transgredir, eis a questão fundamental. É questão moral, teológica na essência.
Lembro-me que alguém, ao tentar um exemplo concreto pediu aos seus ouvintes um copo. Tendo largado o copo de certa altura ele se espatifou no chão. Então esse alguém disse, não é preciso mais que dois neurônicos para fazer isso, destruir. Um gato, um rato, ou um cachorro poderia ter feito. Agora, para restaurar o copo, é preciso mais do que movimento, é preciso inteligência aplicada, ou seja, é muito difícil restaurar. Ë difícil para o homem, e é difícil para a natureza restaurar a condição genética original, só não é difícil para Deus. Romper as barreiras de defesa da genética cujas origens se perdem na “Noite dos Tempos” é mais do que irresponsabilidade, é crime. Crime contra a vida e sua ordem vital. Se os astros no Cosmo furtando-se às leis que os determinam em seus movimentos se chocassem uns aos outros, o que seria? Se os homens hoje nascessem com quatro pernas, amanhã com três, e depois de amanhã com seis, qual indústria de confecções poderá atendê-los? Entendem a relação mutação meio? Alterar as regras genéticas altera uma cadeia harmônica de inter-relações microscópicas da vida para com a vida, e o meio cósmico, e microcósmico, há, para manter a vida, de tornar-se tão velozmente “revolucionários”, que nós perderemos a identidade. Já não seremos a imagem e semelhança de Deus, mas seremos o “produto” imperfeito dos homens atendendo leis de mercado num primeiro momento, e monstros tendentes à morte, num segundo e decisivo momento. A genética tem o tempo como seu grande aliado e incansável e exemplar auxiliar.
Wallace Requião de Mello e Silva.
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