Energia Rural.
Wallace Requião de Mello e Silva.
Quem acompanhou as últimas notícias sobre a estiagem no Piauí, pode verificar as conseqüências da crise. Um caminhão pipa de 7 metros cúbicos esta custando, ou melhor, é vendido pelos atravessadores (lembrando que a água é bem fora do comércio) por um mínimo de 300 reais. Ou seja, estou querendo dizer que as crises de oferta criam a especulação e aumento incontrolável de preços e também, facilita o surgimento de crimes contra a economia popular.
Vejam vocês que se aproxima uma crise de combustíveis mundial que poderá levar ao mesmo fenômeno ocorrido no Piauí. A falta de combustíveis levantará os preços a níveis insuportáveis. Ora, mas antes de nos preocuparmos com os combustíveis das maquinas, haveremos, prudentemente de nos preocuparmos com os combustíveis dos seres vivos, entre eles, e sobre tudo, o “combustível” dos homens. Assim o cuidado com a produção de comida vem antes do cuidado com a produção de combustíveis. As maquinas servem os homens, e não os homens devem servir as maquinas.
Nesse contexto entra o conceito de Energia Rural. O que é? Em primeiro lugar a comida que alimenta a energia dos braços humanos. Depois segue, em ordem, (1) a lenha que produz fogo, (2) a força hidráulica que produz movimento por si só (roda d’água ou pequenas turbinas geratrizes) ou em combinação com o fogo (gerando vapor para maquinas a vapor), (3) a tração animal que ara a terra e move moendas, a eletricidade de uso infindável, e (4) os combustíveis industrializados (a palavra combustível quer dizer aquilo que gera combustão, fogo), ou seja, álcool, óleo vegetal combustível, o biogás, o biodiesel e os tradicionais derivados do petróleo (e ainda o xisto, o carvão mineral, o gás, e outros encontráveis e acessáveis nas áreas rurais.).
Assim o Governador Requião, em quatro de Abril de 1994, enviava a Assembléia Legislativa do Paraná uma mensagem criando a Copagás, convênio entre a Copel e Petrobrás, para instalação de infra-estrutura e distribuição de Gás. Dava andamento acelerado ao Programa de Eletrificação Rural, procurando ampliar as propriedades rurais atendidas, e procurava estabelecer uma malha mais fina na Telefonia Rural. Hoje praticamente todos os municípios do estado estão servidos por fibras óticas (e os que restam, acessam a internet via parabólica).
Obviamente, no processo e nível tecnológico que estamos vivendo no Paraná, a instalação de energia elétrica em propriedades rurais é de máxima urgência. A política de preços da energia elétrica para as propriedades agrícolas também é fundamental. Nesse sentido é flagrante o esforço do Governo na oferta de serviços rurais, através da COPEL, ofertando a preços viáveis as instalações rurais, enquanto a Companhia e o governo se esforçam em manter tarifas especiais para consumo nas áreas produtivas da indústria e da produção rural (programa de irrigação noturna, por exemplo).
Quando o Governo do Paraná faz a aposta na Energia Rural, ele quer que a Agricultura e a pecuária do estado não sejam pressionadas pelos especuladores da Crise de Combustíveis (incluindo os fertilizantes químicos com base em derivados), e com isso, quer garantir, em primeiro lugar, a produção, armazenagem e distribuição de comida. (aqui a importância econômica do combate aos transgênicos).
Em primeiro lugar, e é o ideal devemos fragmentar as áreas de possível dependência (imensas áreas de monocultura), dando às pequenas e media propriedades a tecnologia necessária para a resistência contra os efeitos da crise e da ganância dos grupos exploradores internacionais, que trocarão, conforme a crise, um litro de gasolina por um bom pedaço de terra bem plantada. (o Paraná fomenta um programa de geração de óleo combustível frio, que já move tratores no nosso estado). Ou seja, na defesa de nossa economia, estamos fortalecendo os médios e pequenos produtores (consultem os relatórios do SEBRAE). Assim, destinar certas áreas de plantação para lenha é fundamental, embora todo cuidado seja necessário para a defesa ambiental. Pequenas usinas de energia elétrica (PCHs) devem ter o apoio do estado e da legislação, isso é projeto estratégico. A produção eólica, de eletricidade e moagem, é outra estratégia fundamental. A silagem de grãos e sementes é também condição estratégica. Por fim, a produção de óleo combustível tirado de grãos, processados nessas mesmas propriedades ou em cooperativas, para mover tratores e caminhões de abastecimento das sestas básicas, o que garantiria a viabilidade produtiva dos espaços, a sobrevivência das populações, é, como vemos, são outras das estratégias fundamentais. Finalmente o incentivo à nova distribuição (redirecionamento) demográfica, melhorando a vida no campo, tornando-o mais confortável, garantindo comunicação e informação, espalhando assim as populações pelo território estadual e no futuro, quiçá no território nacional.
Isso parece não estar sendo entendido por todos os cidadãos. Os programas de óleo combustível em andamento no Paraná, seja aquele desenvolvido pelos Cooperados da Witemarsum, sejam pelo TECPAR, pretendem divulgar e tornar acessível, aos cidadãos, tecnologia e minis plantas de produção de álcool, ou óleo combustível, como mais uma opção emergencial para a produção de Energia Rural. Não é atraso, não é retorno ao passado, nem enfrentamento das grandes corporações como, por exemplo, distribuidoras de petróleo, ou similares, mas é visão estratégica, prudente, pois agindo essas unidades, privadas ou publicas, como se fossem, batalhões de Bombeiros, à espera de um incêndio florestal ou urbano, eles ali estão para a segurança de todos, garantindo a mínima produção necessária para o abastecimento de comida à população em um momento emergencial. Assim, essa tecnologia desvinculada do macro capital, esta ali para garantir a segurança de todos, está pronta para produzir energia de socorro em época de crise. Como os bombeiros precisam manter seus equipamentos operantes e seu treinamento em dia, o Paraná, precisa também, à margem do interesse dos grandes capitais, instalar, produzir e manter esses “focos” de alternativa energética distribuídos estrategicamente em todo o estado, garantindo a produção e o armazenamento do essencial para a manutenção da vida dos paranaenses e demais brasileiros, se a crise mundial se agravar, principalmente tendo em vista a grande crise energética que se avizinha do mundo todo, e isso segundo a ONU. Antes de nos tornarmos aptos para encher os tanques dos automóveis de luxo nos países ricos, nós devemos nos tornar aptos para produzir nossa comida com diversidade de gêneros e abastecer nossos tratores, motores geradores e caminhões, pois não podemos nos esquecer, somos quase duzentos milhões de pessoas irmanadas no “problema” e nas soluções do Brasil que amamos.
Já disse alguém: “se as cidades queimarem o homem do campo virá e reconstruirá as cidades, porém, se os campos queimarem, os homens das cidades e os do campo, morrerão de fome.”