vendredi 27 mars 2009

Crise Mundial, o que você não ouviu.

Requião enaltece diversidade de opiniões ao abrir seminário sobre crise econômica
- 07/12/2008 21:05:58
O governador Roberto Requião enalteceu a diversidade de opiniões e o debate sobre alternativas para as economias brasileira e mundial ao abrir neste domingo (7), em Curitiba, o seminário internacional "Crise — Rumos e Verdades". O evento reúne economistas, professores e administradores da Itália, Inglaterra, Alemanha, China, Argentina, Venezuela, México, Rússia, Equador e Estados Unidos para debater até a próxima quinta-feira (11) os efeitos da crise do capitalismo global.

"O Governo do Paraná chegou à conclusão de que deveria colocar sua televisão pública a serviço do aprofundamento do debate sobre a crise por que passa todo o mundo, hoje. Era preciso estabelecer a multiplicidade das opiniões e análises", disse Requião. "Teremos aqui várias correntes de pensamento, várias análises da crise que vivemos, da grande crise do capitalismo no mundo", falou o governador, na solenidade realizada no auditório principal do Canal da Música.

"O apoio para que realizássemos esse seminário surgiu de intelectuais como (os economistas) Carlos Lessa e Darc Costa. Conseguimos construir aqui um espaço magnífico de debates. Mas é preciso chamar a atenção para um ponto. Temos aqui correspondentes de jornais e agências de notícias chinesas, italianas, dos países árabes, africanos, ingleses, uruguaios, peruanos e panamenhos. O mundo interessado no que acontece aqui. Mas vocês notaram que não tivemos a inscrição de nenhum dos grandes veículos, dos jornais do Brasil, com exceção da revista Carta Capital, que irá publicar um encarte especial reunindo tudo o que será discutido aqui", falou Requião.

"A grande mídia é unilateral. Nas grandes redes de televisão, não temos um dado sobre o México, nada sobre a Rússia. Era preciso estabelecer a multiplicidade das opiniões e análises. Conversei outro dia com a ministra (chefe da Casa Civil) Dilma Roussef, que me disse: 'Requião, é preciso que discutamos essa crise à exaustão'. É o que faremos aqui", afirmou o governador.

"O governo federal liberou depósitos compulsórios para os bancos, que não liberam crédito para a economia — em vez disso, aplicam o dinheiro em letras do tesouro. Então, já temos uma crise de crédito, além de um problema brutal de saída de recursos. Pois, se os dólares e outras moedas continuam entrando, já acumulamos um prejuízo de 7 bilhões de dólares no balanço de entradas e saídas, segundo o governo federal", apontou Requião.

"O que está acontecendo com o Brasil? Estamos no caminho certo? Vamos nos tornar uma grande plantation de commodities agrícolas, como as que os ingleses administravam na África e na Ásia? A ruralização da economia brasileira é suficiente para o País que queremos, ou precisamos como acredito, pensar e investir na industrialização brasileira?", questionou o governador.

"Este seminário se tornou possível graças à colaboração do governo federal e ao apoio de empresas públicas do Paraná e da União. No último dia do evento, iremos publicar as despesas que fizemos o que gastamos, e o valor da contribuição de cada órgão que participou da viabilização desse encontro", acrescentou.

Também participam da solenidade de abertura o vice-governador Orlando Pessuti, os economistas Carlos Lessa e Darc Costa, os presidentes da Gradiente, Eugênio Staub, e do Grupo Positivo, Oriovisto Guimarães, o superintendente comercial para a Região Sul do Banco do Brasil, João Carlos de Nóbrega Pecego, o diretor-administrativo do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Airton Pisseti, o diretor-financeiro do BRDE, Renato de Mello Viana, os presidentes da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures, da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Paraná (Faciap), Ardisson Akel, e do Sistema Fecomércio, Darci Piana.


Governo do Paraná vai elaborar documento com propostas do seminário internacional - 11/12/2008 17h59min: 04
O governador Roberto Requião disse nesta quinta-feira (11), no encerramento do seminário internacional "Crise – Rumos e verdades", em Curitiba, que será elaborado pelo Governo do Paraná um documento reunindo as idéias e propostas dos palestrantes brasileiros e estrangeiros durante os cinco dias do evento. Além disso, serão gravados CDs e enviados a governos estaduais, escolas de economia, conselhos regionais de economia e bibliotecas.

"A idéia era que, com as multiplicidades de perspectivas, com a observação de outros países, pudéssemos articular uma bateria de sugestões para o enfretamento do problema no Brasil", disse Requião. De acordo com o governador, o documento "será escrito com mais tempo porque as idéias dos cerca de 30 palestrantes, alemães, italianos, russos, americanos, argentinos, mexicanos, equatorianos e brasileiros não podem ser sintetizadas apenas em um fim de tarde".

Requião destacou ainda que o seminário fosse financiado por órgãos federais, como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, e por empresas do Estado do Paraná. "Isso possibilitou concluir o processo de discussão e vai bancar a edição dos CDs", comentou.

"Na abertura do seminário, propus que ele não fosse gatopardiano, lampeduzziano, que não propusesse mudar alguma coisa para que tudo ficasse como está. As questões deveriam ser aprofundadas. Dediquei o seminário ao Brasil, ao Lula e às autoridades da República", salientou Requião.

EVENTO – Promovido pelo Governo do Paraná, o seminário começou no domingo (7), no Canal da Música, em Curitiba, e promoveu durante cinco dias, pela manhã e tarde, mesas com especialistas estrangeiros, que apresentaram suas perspectivas sobre a economia mundial. Foram debatidos temas como sistema monetário, organizações multilaterais, mudanças no setor financeiro, investimentos em programas sociais e integração de blocos.

De acordo com Requião, o seminário teve grande audiência – apenas na internet mais de 31 mil pessoas acessaram o evento, que também foi transmitido pela TV Paraná Educativa. "Na semana que vem, a Paraná Educativa deve entrar na SKY e poderá retransmitir as palestras", disse o governador. Nos cinco dias, 1,5 mil pessoas compareceram ao Canal da Música.

O encerramento teve a participação do governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira, e do de São Paulo, José Serra. Os especialistas estrangeiros que participaram do seminário foram Yury Gromyko (Rússia), Mario di Constanzo (México), Tom Palley (EUA), Mario Lettieri (Itália), Paolo Raimondi (Itália), Magnus Ryner, Lorenzo Carrasco (México), Alex Izurieta (ONU), Andrey Kobyakov (Rússia), Aldo Ferrer (Argentina), José Félix Rivas (Venezuela), Márco Naranjo Chiriboga (Equador).

Os palestrantes brasileiros foram Aloizio Mercadante, Maurílio Leopoldo Schimitt, José Carlos de Assis, Francisco de Assis Inocêncio, Márcio Henrique M. de Castro, Franklin Serrano, Carlos Medeiros, Ênio Verri, Wilson Cano, Márcio Pochman, Reinaldo Gonçalves, João Sicsú, Carlos Lessa, Darc Costa, Ricardo Carneiro, César Benjamin, Eugenio Staub, entre outros especialistas e autoridades.



Requião pede urgência em medidas para superar a crise - 11/12/2008 18h13min: 34
CRISE: RUMOS E VERDADES

O governador Roberto Requião reforçou a urgência de uma política nacional para a superação da crise econômica nesta quinta-feira (11), em Curitiba, ao encerrar o seminário internacional "Crise — Rumos e Verdades". O evento reuniu economistas, professores e administradores da Itália, Inglaterra, Alemanha, China, Argentina, Venezuela, México, Rússia, Equador e Estados Unidos para debater os efeitos da crise do capitalismo global. "Não podemos deixar a recessão ser iniciada", disse.

De acordo com Requião, a circulação do crédito, assim como a ampliação dos investimentos públicos são unanimidade entre os economistas no seminário. Como um alerta, o governador frisou que o país necessita também de uma política de juros diferente da praticada pelo Banco Central. "Hoje a Suíça e a Coréia do Sul anunciaram uma redução radical nas taxas de juros. Uma medida que se contrapõe radicalmente à estranha ciência do Banco Central do Brasil. Os governos do mundo baixam os juros para a manutenção do consumo. Todos os governos do mundo estão errados?", questionou Requião.

Ao apresentar como alternativa à crise a retomada do Estado como indutor do desenvolvimento do País, o governador apontou como emergencial, os investimentos em infra-estrutura e em obras com grande uso de mão-de-obra, para garantia do emprego no Brasil. Segundo o governador, acabou a idéia de "Estado mínimo tão repetido pela mídia".

A crise econômica mundial também ampliou a contradição entre nação e mercado. "A nação é preocupada com o processo civilizatório e cultural, ao passo que o mercado visa apenas ao lucro e à ganância. A nação é preocupada com a solidariedade e é com ela que devemos seguir", disse Requião. Ele apresentou um conjunto de ações pontuais para superar as dificuldades: "Controle de câmbio, centralização e estatização do crédito e a aceleração de investimentos públicos".



Senador Álvaro Dias diz que as soluções para a crise econômica devem ser globais - 11/12/2008 16h34min: 32
O senador do Paraná Álvaro Dias afirmou nesta quinta-feira (11), durante o encerramento do seminário "Crise – Rumos e verdades", em Curitiba, que o debate é o caminho mais acertado para o enfrentamento da crise econômica. "Cumprimento ao Governo do Paraná pela iniciativa e a quem veio oferecer sua contribuição para que se eleja o debate como o caminho para o encontro de soluções mais inteligentes para o enfrentamento da crise no Brasil", afirmou.

De acordo com Álvaro Dias, as discussões sobre a crise estão apenas começando e em 2009 deve haver um grande debate em busca de soluções para a economia mundial. "Vejo em nosso País poucas propostas que visem alavancar programas de desenvolvimento para enfrentar a crise. Certamente, este debate, que reúne especialistas de vários pontos do mundo, é um estímulo para que o debate interno se estabeleça a partir de agora", disse.

Para o senador, as soluções devem ser pensadas em conjunto entre os países e devem ser globais, já que a crise é mundial. "Portanto, devem-se excluir eventuais egoísmos deste ou daquele país", disse. "Não bastam ações de administração do sistema financeiro, é preciso que haja administração com competência. Muito mais que isso, a crise exige propostas que possam alavancar programas de desenvolvimento que façam frente às ameaças visíveis de recessão da economia mundial e da nossa economia", frisou.

Dias também destacou as idéias do economista Carlos Lessa sobre os impactos da crise. "Lembro-me de que foi Carlos Lessa o primeiro dos especialistas que vi fazer um diagnóstico de profundidade, com rigor, desenhando exatamente as conseqüências terríveis que poderiam ocorrer em razão dessa hecatombe que se abateu sobre a economia mundial. Este discurso contrastava com o da marola. Os dias se passaram e, certamente, hoje, ninguém tem mais dúvidas de que o discurso da correção e inteligência econômica, sem dúvida, era o de Carlos Lessa", comentou.



José Serra sugere investimentos públicos para combater a crise - 11/12/2008 18h28min: 22
O Brasil deve tomar medidas mais ágeis em curto prazo para enfrentar a crise da economia mundial. Entre elas a manutenção dos investimentos dos Estados e da União, a queda da taxa de juros e a revisão da política de câmbio. As afirmações foram feitas pelo governador de São Paulo, José Serra, no encerramento do seminário "Crise: Rumos e Verdades", organizados pelo Governo do Paraná e que reuniu, nos últimos cinco dias, 1,5 mil pessoas entre economistas, sociólogos e professores universitários.

"O que vai acontecer no futuro vai depender das ações que tomarmos aqui no Brasil. Nós podemos transformar fatores adversos em fatores positivos", afirmou Serra, sugerindo também a necessidade de um projeto nacionalista de longo prazo. "Temos que entender que somos uma Nação que precisamos de uma política nacionalista como os outros países estão fazendo. Nós não podemos ter vergonha de ter a nossa política", acrescentou.

Essas medidas de curto prazo, segundo Serra, elevariam a confiança da população. "A confiança é questão chave hoje em dia. Confiança para gastar, para emprestar, para consumir. É muito importante elevar expectativas menos pessimistas em relação à crise", afirmou.

Serra puxou a responsabilidade para os Estados e para a União ao afirmar que há necessidade de manter os investimentos públicos. "Não podemos deixar o investimento cair. Isso ajuda no emprego e ajuda a sinalizar expectativas mais estáveis no conjunto da economia", afirmou.

Entre os fatores adversos, está à alta taxa de juros, que segundo o governador paulista está na origem da chegada da crise no Brasil. Serra, que é economista, criticou a decisão tomada nesta quarta-feira (10) pelo Banco Central de manter as taxas de juros em 13,75% ao ano, a maior do mundo. "Isso é um absurdo. Nós temos a maior taxa de juros há muito tempo. Estamos com contração do crédito, perspectivas de desemprego, deflação de commodities e os juros permanecem. Por outro lado, o mundo inteiro derrubou suas taxas, que já eram mais baixas que as do Brasil. Aqui não derruba. O custo disso, do ponto de vista econômico, é muito alto. Realmente não baixar os juros significa enfraquecer a confiança na economia", salientou.

Serra também pediu modificações urgentes na política cambial do Governo Federal. "O câmbio estava mega valorizado a troco de nada. Representou um problema que pode ser revertido. Ao diminuir as importações estaremos estimulando uma maior atividade interna. Por exemplo, a mudança do câmbio tende a valorizar o turismo no País", disse. Para ele, deveria haver também uma forma de controle da volatilidade do câmbio, que cria dificuldades em negociações que refletem em toda a economia. "Não há certeza de como vai ser o câmbio amanhã ou depois de amanhã. Gera um momento de incerteza fatal para a atividade econômica. Sem mudar o regime de flutuação cambial, devia o Banco Central praticar uma política que pudesse conferir um pouco mais de estabilidade", disse.

Assim como outros palestrantes, Serra afirmou que a crise abre também possibilidades para o Brasil crescer e se desenvolver. Ele citou o exemplo do enfretamento da crise de 1929, quando em 1932 iniciou um ciclo de crescimento que se encerrou no final da década de 70. "Temos que achar um novo caminho. A crise foi produzida pela interdependência da globalização. A globalização não vai desaparecer, mas ela vai mudar. Precisamos de uma estratégia para as mudanças que devem ocorrer na política comercial, principalmente americana", acrescentou.



Governador de Santa Catarina propõe a redução da dívida dos Estados com a União - 11/12/2008 19h11min: 37
CRISE: RUMOS E VERDADES

O Governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira, propôs nesta quinta-feira (11) durante o encerramento do seminário Crise – Rumos e Verdades, em Curitiba, a redução de 30% do valor que é cobrado pela União em dívidas dos Estados. Este é, segundo ele, um dos maiores entraves que o Brasil tem para o desenvolvimento pleno e a medida ajudaria a combater os efeitos da crise global no sistema financeiro.

Ele lembrou que os Estados brasileiros pagam 13% de suas receitas liquidas reais numa dívida consolidada com a União. "A proposta que fiz ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, e vou fazer ao presidente Lula é que os Estados retenham 30% do pagamento da dívida e os transforme em investimentos na infra-estrutura, em um programa combinado com o Governo Federal", afirmou.

"Em dez anos o Governo Federal enxergaria quanto deixou de receber e tenho certeza de que o desenvolvimento dos Estados representaria muito mais para a União", afirmou, salientando que neste cenário a dívida presente poderia ser enxergada como crédito para mais investimentos.

De acordo com Luiz Henrique, a centralização é um dos maiores bloqueios ao crescimento do País. Ele considera a proposta que fez fundamental para o desenvolvimento baseado na infra-estrutura. "O Brasil concentra 60% da arrecadação tributária nas mãos da União, apenas 12% para os municípios e 22% para os Estados. E é nos municípios que nós vivemos e é lá que cresce a cidadania. Os prefeitos são os agentes que têm menos recursos para atender à demanda. Os Estados, como os maiores articuladores, perdem também a capacidade de suprir a necessidade e serem financiadores do desenvolvimento" explicou.

"Temos que tomar uma oportunidade nesta crise. O poder público é em todo mundo o grande indutor da geração de empregos, o grande acelerador da geração de riquezas. Em Santa Catarina toda a arrecadação do Imposto sobre Circulação de Serviços (ICMS) tem destino certo, não sobra praticamente nada para investimento e essa é uma realidade muito mais forte no Norte e Nordeste", disse Luiz Henrique.

"A redução de 30% da dívida representaria um grande programa de aceleração do crescimento, porque não dependeria de repasses da União para os Estados. Eles teriam os recursos já disponíveis", disse. De acordo com o governador de Santa Catarina, a retenção de uma parte da dívida dos Estados com a União poderia ser usada para a elaboração de um programa de combate emergencial a fenômenos climáticos, como as enchentes, que já somaram um prejuízo de R$ 72 milhões no estado vizinho e causou 152 mortes. "Fenômenos semelhantes já ocorreram nas bacias dos rios Iguaçu e Paraná e o Jacuí, no Rio Grande do Sul. É preciso que façamos o que foi feito no Vale do Rio Tenessee, nos Estados Unidos, que se estabeleçam normas, ações e obras de engenharia que regularizem as vazões dos rios, impeçam inundações e viabilizem a fertilização de regiões e promovam o reflorestamento e o desenvolvimento", disse.

O governador Luiz Henrique vai receber o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta sexta-feira (12), em Navegantes, para um sobrevôo às cidades de Ilhota, Luiz Alves e Gaspar. No programa ainda consta uma visita aos desabrigados de Blumenau e Itajaí.



Pochmann: "saídas para a crise, mais que econômicas, devem ser políticas" - 10/12/2008 19h01min: 43
As saídas para deter os efeitos da crise no Brasil são políticas, mais que econômicas, disse nesta quarta-feira (10) o economista Marcio Pochman, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). "O Brasil foi um dos primeiros países a sair da crise de 1929, porque reorientou seu projeto de nação. Washington Luis (último presidente da república velha) dizia que a crise do café seria superada com o plantio da laranja. O que seríamos, hoje, se tivéssemos seguido essa idéia?", comparou, em sua participação no seminário internacional "Crise — Rumos e Verdades", organizado pelo Governo do Paraná em Curitiba.

"Os impactos da crise podem ser a saída da oposição para enterrar o governo Lula, com o resgate de idéias do passado. É absolutamente fundamental que nos próximos dois anos tenhamos uma visão ampla sobre como enfrentar a crise", alertou o economista. "Me entusiasmei por estar aqui (no seminário), pois acredito que é fundamental a construção de uma convergência política que dê condições ao Brasil de sair da crise em condições superiores às atuais", falou Pochman.

Ele defendeu mudanças na estrutura tributária brasileira para contrabalançar os efeitos imediatos da crise. "O Brasil não pode seguir financiando suas políticas públicas assentado na regressividade dos tributos. Hoje, 56% da arrecadação brasileira vêm do imposto sobre consumo. O imposto sobre propriedade são apenas 3% do total. A tributação sobre patrimônio é nula. O IPTU, que é responsabilidade dos prefeitos e vereadores, também é regressivo. A forma como ele é aplicado, hoje, faz com que o morador de uma favela pague mais IPTU que o morador de uma mansão", afirmou.

O presidente do IPEA também defendeu intervenções coordenadas entre países para fazer frente à crise. "No mundo atual, empresas são maiores que países. As três maiores corporações do mundo têm faturamento equivalente ao PIB do Brasil. As 500 maiores corporações do mundo faturam o equivalente a 50% do PIB mundial. Como fazer a governança nessas circunstâncias, em que o setor privado tem um poder nunca antes visto? Ações supranacionais são absolutamente necessárias; não podemos contar apenas com decisões de internas. Dificilmente seremos uma ilha de prosperidade num mar de dificuldades", alertou.

"Acho que uma ação do Estado será necessária, mas elas precisam ir além de medidas keynesianas de regulação, especialmente num mundo globalizado, em que já internacionalização do capital em larga escala. Assim, tais medidas, no plano nacional, não serão suficientes como foram em 29. Precisamos de ações para além do nacional, e nesse sentido Brasil poderia ser protagonista de políticas no âmbito da América Latina. Espera-se que o Brasil assuma esse papel, assim como outros presidentes tentam fazer noutras regiões do mundo", disse Pochman.

O presidente do IPEA não acredita que o Pai entrará em recessão em 2009, mesmo com a crise, e disse que as estatísticas projetam um crescimento do Produto Interno Bruto de 2,8% no ano que vem. "Se não houver uma hecatombe, o Brasil cresce 2.8% em 2009, como resultado do crescimento de 2008, segundo as estatísticas", falou. Ainda assim, trata-se de fato a lamentar. "Haverá efeitos sociais. Se crescermos abaixo de 4,5%, não geraremos empregos para todos que chegam ao mercado, tampouco teremos condições de ocupar os 8,5 milhões de trabalhadores que estão desempregados, segundo o IBGE", explicou.

"Não teremos condições de dar seguimento ao interessante movimento que se verificava nos últimos dois anos — a redução da desigualdade no interior da renda do trabalho, em 2005/06, segundo IBGE, a renda do trabalho começou a crescer mais que renda dos proprietários. Era um movimento muito interessante, que havia muito tempo não era percebido no Brasil. Ao crescermos menos, essa trajetória está em xeque", disse Pochman.

Leia os principais trechos da apresentação de Pochman no seminário internacional "Crise — Rumos e Verdades".

SAÍDAS PARA A CRISE SÃO POLÍTICAS

"Não há dúvidas de que a crise, originária da principal economia do mundo, os Estados Unidos, que ainda detêm um quinto da economia mundial, e que avançou rapidamente para os países desenvolvidos, que detêm 50% do PIB mundial, terá impactos nada desprezíveis em países como o nosso."

"O Brasil não vai sair da crise com medidas exclusivamente econômicas. As saídas são políticas. É esse elemento que está faltando agora no Brasil. Entusiasmei-me por estar aqui (no seminário), pois acredito que é fundamental a construção de uma convergência política que dê condições ao Brasil de sair da crise em condições superiores às atuais. Isso é plenamente possível, a despeito das dificuldades que temos, considerando que em outros momentos — em 1873, 1929, 1973 — momentos o Brasil soube se posicionar muito bem."

"O Brasil foi um dos primeiros países a sair da crise de 1929, porque reorientou então seu projeto de nação. Somos frutos das decisões tomadas àquela época. De lá, se construiu uma nova maioria, um horizonte para o país para pelo menos cinco décadas. Washington Luis (último presidente da república velha) dizia que a crise do café seria superada com o plantio da laranja. O que seríamos hoje se seguisse essa idéia?"

"Em 1973, quando o dólar deixa de ser conversível ao ouro e se abandonam as taxas de juros fixas, o Brasil também tomou decisões importantes. Se não foram as mais acertadas, ao menos o País foi pró-ativo, constituiu um plano nacional de desenvolvimento, para completar a estrutura industrial brasileira, para construir grandes projetos que ainda hoje nos auxiliam nas exportações, e para aliviar a política de arrocho salarial da época, com recuperação do salário-mínimo, e a primeira política de transferência de renda, a renda mensal vitalícia, de 1974, para pessoas em extrema pobreza. São exemplos estimulantes da história para construirmos uma nova maioria política no Brasil como passo fundamental para que enfrentemos a melhores condições essa crise."

CRISE PODE SER SAÍDA DA OPOSIÇÃO PARA ENTERRAR O GOVERNO LULA

"O enfrentamento da crise não se dará exclusivamente pelas ações dos brasileiros. A crise atual é mais grave, sistêmica, não se interromperá apenas pelo lado financeiro. Os efeitos da crise, apenas no setor financeiro, já permitem dizer que o estrago é superior à 1929, em termos das bolsas. E ela contaminou o setor produtivo, e daí saem efeitos sociais, e finalmente políticos. Na crise de 1929, 16 países da América Latina passaram por mudanças de governo. Os impactos dessa crise, no Brasil, podem ser a saída da oposição para enterrar o governo Lula, com o resgate de idéias do passado. É absolutamente fundamental que nos próximos dois anos tenhamos uma visão ampla sobre como enfrentar a crise."

"A crise é um colapso da saída pelo mercado, tentada sistematicamente ao longo das últimas três décadas, quando se imaginava possível sustentar um enriquecimento fraudado pela financeirização. Não é sustentável, vemos um enorme descolamento entre o tamanho da riqueza real e os direitos à riqueza dada pelos ativos financeiros. A redução dessa diferença demandará um impacto de longa duração. Falamos de um PIB mundial de 65 trilhões de dólares e de ativas dez vezes maiores. Como compatibilizar isso? Apenas com um acerto via mercado, ou precisaremos de ação mais efetiva por parte do Estado?"

"Acho que uma ação do Estado será necessária, mas ela precisa ir além de medidas keynesianas de regulação, especialmente num mundo globalizado, em que já internacionalização do capital em larga escala. Assim, tais medidas, no plano nacional, não serão suficientes como foram em 29. Precisamos de ações para além do nacional, e nesse sentido Brasil poderia ser protagonista de políticas no âmbito da América Latina. Espera-se que o Brasil assuma esse papel, assim como outros presidentes tentam fazer noutras regiões do mundo."

MUNDO PÓS-CRISE SERÁ MULTIPOLAR

"A crise não é só sistêmica, mas é também estrutural. O mundo que saíra dela será muito diferente do que temos hoje. Haverá um espaço inegável para a América Latina, pois ela e a África foram talvez os continentes que mais perderam nas últimas três décadas. Em 1980, a América Latina respondia por 9,5% do PIB mundial. Em 2006, responde só por 7,5%, do PIB mundial, voltou a ser o que era nos anos 1950. Ao contrário, os países asiáticos eram 14,5% do PIB mundial em 1980 e hoje já respondem por um terço do total. Há um espaço a ser ocupado."

"Nosso poder é pequeno, mas não é desprezível, haja vista que as nações menos afetadas pela crise serão as mais populosas, com grandes territórios, como o Brasil, a Rússia, a China, a Índia. Aqui, há duas grandes questões a serem avaliadas. A primeira é o deslocamento do centro dinâmico do mundo para fora dos EUA. O mundo pós-crise deverá ter vários centros, não mais apenas um. A segunda é o profundo esvaziamento do sistema ONU. Não há uma reunião da ONU para tratar da crise dessa dimensão. Ela está escondida do âmbito das agências multilaterais. Onde está o Banco Mundial, o FMI? O espaço ocupado minimamente vai para o G-20, que é reduzido dadas as proporções da crise que enfrentamos."

"O sistema ONU precisa ser repensado, foi construído quando países eram maiores que empresas. No mundo atual, empresas são maiores que países. As três maiores corporações do mundo têm faturamento equivalente ao PIB do Brasil. As 500 maiores corporações do mundo faturam o equivalente a 50% do PIB mundial. Como fazer a governança nessas circunstâncias, em que o setor privado tem um poder nunca antes veste? Ações supranacionais são absolutamente necessárias; não podemos contar apenas com decisões de internas. Dificilmente seremos uma ilha de prosperidade num mar de dificuldades."

UMA GLOBALIZAÇÃO DIFERENTE

"Devemos entrar numa fase de redução do movimento de globalização, que ganhou magnitude nas últimas três décadas. Isso passa uma reavaliação do modelo. Para nós, que somos críticos do modelo atual, abre-se a possibilidade da construção de uma nova globalização. Qual o projeto de globalização que queremos, ou somos contra ela e ponto final? Acredito que é possível construir uma globalização em outras bases."

"A queda nos preços das commodities é um problema difícil para o Brasil, mas muito maior para outros países, principalmente latino-americanos, de economia assentada na produção de voltada ao mercado internacional. Qual a ação do Brasil em termos de solidariedade e de compromisso com a integração regional frente à queda profunda de atividade nos países vizinhos? O que será a crise na Bolívia, no Equador, mesmo na Argentina? Assistiremos calados, sem uma ação articulada? O comércio mundial foi uma válvula de expansão importante para vários países. Frente à redução do comércio, outros países terão como o Brasil tem a capacidade de compensá-la com o mercado interno?"

BRASIL NÃO VAI ENTRAR EM RECESSÃO, MAS VAI CRESCER MENOS

"Serão os países capazes de promover financiamento interno? O Brasil tem importantes decisões tomadas de 2007 para cá. O PAC é certamente um instrumento que pode fazer diferença, deve compensar parcialmente o consumo das famílias e até os investimentos do setor privado. Essa semana conversou com secretários da Fazenda de vários estados e vejo que governos estaduais se prepararam para ações de grande porte nos próximos dois anos. No Ceará, a expectativa é investir 3 bilhões de reais. O Rio Grande do Sul, que estava em dificuldades, também deverá investir em 2009. Não temos só o PAC federal. Se somarmos decisões dos estados, podemos ter o PAC dos governadores. Não é suficiente, mas são ações que ajudam a compensar os efeitos do setor privado e das famílias."

"Não acredito que o Brasil irá entrar em recessão, em 2009, a recessão que já está em curso em vários países avançados. Mas acredito em desaceleração na expansão. Em primeiro lugar, pela elevação dos juros decidida em 2008. Já se sabia que iríamos crescer menos, e agora, com a crise, menos ainda. Ainda assim, se não houver uma hecatombe, o Brasil cresce 2.8% em 2009, como resultado do crescimento de 2008, segundo as estatísticas."

"A expansão menor terá efeitos sociais. Se crescermos abaixo de 4,5%, não geraremos empregos para todos que chegam ao mercado, tampouco teremos condições de ocupar os 8,5 milhões de trabalhadores que estão desempregados, segundo o IBGE. Não teremos condições de dar seguimento ao interessante movimento que se verificava nos últimos dois anos. Em primeiro lugar, a redução da desigualdade no interior da renda do trabalho. O Índice de Gini (que mede a desigualdade social; quanto maior for a concentração de renda, maior o Índice) caiu, e possivelmente esse ano teremos um Gini equivalente ao de 1960, de 0,5%. Ele mede a renda do trabalho, que hoje equivale a cerca de 42% do PIB. Em 2005/06, segundo IBGE, a renda do trabalho começou a crescer mais que renda dos proprietários. Era um movimento muito interessante, que havia muito tempo não era percebido no Brasil. Ao crescermos menos, essa trajetória está em xeque."

GOVERNO AINDA PODE FAZER MAIS PRA ENFRENTAR A CRISE

"Acredito que as medidas tomadas pelo governo federal, até agora, vão à direção correta. Ainda assim, estão longe das que outros países estão tomando. O IPEA montou um grupo de trabalho sobre a crise, que acompanha o que é feito noutros países. Enquanto no Brasil as decisões tomadas para aumento de liquidez, redução da tributação, entre outras, equivalem a 3% do PIB. Se olharmos para países como China, Índia e Rússia, vemos que as medidas variam de 7% a 15%. Então, ainda que estejam na direção correta, são medidas pouco ousadas. Temos mais espaço para avançar. Na Inglaterra, por exemplo, compraram-se ativos de bancos, reduziram-se impostos indiretos, e aumentaram-se os diretos. A alíquota máxima do imposto de renda na Inglaterra chegou a 45% da renda. O enfrentamento da crise se faz também mudando o perfil distributivo. O que o Brasil poderia fazer? Hoje, a divisão do trabalho, estabelecida a partir da grande corporação transnacional, é muito provável que haverá um deslocamento de empresas. É difícil imaginar que empresas automobilísticas, por exemplo, irão ficar esparsas como estão hoje. A globalização deve ser desinflada, e o Brasil tem a oportunidade de ocupar melhor a cena internacional, assim como China, como a Índia, que adotaram medidas muito agressivas, de atração de investimentos diretos e de terceirização. O Brasil poderia ter política agressiva de apoio à relocação de empresas que estão hoje em países avançados que vivem quadros de recessão."

É PRECISO REVER A COMPOSIÇÃO DA CARGA TRIBUTÁRIA

"Há espaço, não só do governo federal, de rever a composição da arrecadação tributária no Brasil, para aliviar o peso da crise sobre os mais pobres. Uma série de medidas que reduziriam o peso dos impostos para os mais pobres. O IPTU, municipal, que é responsabilidade dos prefeitos e vereadores, poderia ser alterado, porque é regressivo. A forma como ele é aplicado, hoje, faz com que o morador de uma favela pague mais IPTU que o morador de uma mansão, segundo os dados a que temos acesso. São muito poucas as cidades que adotam o IPTU progressivo. Outro exemplo é o imposto de renda. Não há o que nos impeça de rever o imposto de renda, que começa com uma alíquota muito alta e termina com alíquota muito baixa. Por que não reduzir o peso dos impostos indiretos? Por que não constituir um fundo de compensação frente a impostos tão importantes como os impostos indiretos? Uma carga tributária menor para os mais pobres é instrumento de alívio da crise."

"São necessárias medidas de reforma na estrutura da propriedade, na mudança da estrutura dos tributos. O Brasil não pode continuar seguir financiando suas políticas públicas assentado na regressividade dos tributos. Hoje, 56% da arrecadação brasileira vêm do imposto sobre consumo. O imposto sobre propriedade são apenas 3% do total. A tributação sobre patrimônio é nula."

"Há espaço para readequação das despesas públicas, pois a crise exige um papel mais ativo do Estado. Ele pode se dar pela mudança da composição do gasto brasileiro. O Brasil faz gastos desnecessários, improdutivos, que estimulam a desigualdade. Não há razão para o Brasil comprometer 7% de seu PIB com o pagamento do serviço da dívida. Gastamos sete vezes mais com o pagamento de juros que com educação, gastamos três vezes mais com juros que com saúde. Uma redução desses gastos seria não apenas uma medida importante para reduzir o peso da dívida interna sobre o PIB, mas também viabilizaria a ampliação dos investimentos e de gastos sociais. A recomposição dos gastos e do superávit primário daria capacidade ao Brasil de criar um programa que vai além do PAC, um programa de garantia de emprego, de defesa da produção nacional. É possibilidade técnicas, que demandam pressão política, demandam a construção de uma nova maioria. A medidas tomadas pelo presidente Lula, até agora, atendem aos de cima, porque eles se organizaram e pressionam. É hora dos de baixo mostrar força. Um evento como esse seminário sinaliza a reorganização do Brasil em novas bases."




Ex-ministro da Fazenda argentino propõe criação de empresa nuclear sul-americana - 10/12/2008 12h36min: 36
O ex-ministro da Fazenda argentino Aldo Ferrer propôs a criação de uma empresa sul-americana de energia nuclear, para consolidar a integração dos países sul-americanos, com reflexos diretos no desenvolvimento do setor industrial do continente. Ferrer falou na abertura da programação da manhã desta quarta-feira (10), do seminário "Crise – Rumos e Verdades", promovido em Curitiba, pelo Governo do Paraná.

"As tecnologias que se aplicam na energia nuclear são para todo o conjunto da atividade produtiva. Precisamos de iniciativas fortes para avançar na integração da infra-estrutura, da ciência e da tecnologia", afirmou. Ferrer é economista, diretor da cadeira de Estratégia Econômica Internacional da Universidade de Buenos Aires e diretor da Enarsa, estatal de energia da Argentina.

O economista reforçou que este é o momento de os países sul-americanos aproveitarem as experiências argentinas e brasileiras e pensarem na consolidação de uma grande empresa de geração de energia nuclear. "Uma grande política nuclear no MERCOSUL seria um grande avanço." Ele disse que os países sul-americanos devem construir os seus próprios caminhos para sair da crise por meio de políticas desenvolvimentistas, para fortalecer o Estado com o foco em investimentos na industrialização, em ciência e em tecnologia.

"Não há desenvolvimento sem transformação produtiva, sem ciência e tecnologia. Não é possível realizar esse processo de transformação se estamos presos à especialização e produção de produtos primários", salientou.

IDÉIAS – Além da criação da política nuclear na América do Sul, Ferrer apresentou sugestões para o fortalecimento das economias. "O que vai acontecer nos nossos países no futuro próximo, vai depender mais do que nós fizermos que das ações dos outros".

O economista, que foi um dos conselheiros do governo Néstor Kirchner, defende a organização de Estados transparentes, sociais e democráticos, que sejam capazes de ordenar a economia, gerar e distribuir riquezas. "Temos que ter políticas de câmbio que privilegiem a produção nacional aos produtos que vêm de fora e mobilizar recursos próprios para serem aplicados no território nacional".

De acordo com Ferrer, apesar de os países da América do Sul não possuírem poder decisivo para mudar a realidade internacional, podem ajudar com boas idéias e orientações. Ferrer diz que cada país tem que assumir a sua responsabilidade. "Não podemos delegar ao mundo decisões de caráter nacional como a reforma do Estado, investimentos em educação, coesão social e a criação de condições de rentabilidade adequada.".

"Cada um dos nossos países, e todos juntos, tem a capacidade fundamental para estar no mundo de uma maneira diferente. Não no modelo subordinado centro-periferia, mas como nações transformadas, industriais, justas e capazes de ter uma relação simétrica e intensa e profunda com o resto do mundo", declarou.



Diretor do Banco Central da Venezuela defende integração e soberania sobre recursos naturais - 10/12/2008 14:21:22
O diretor do Banco Central da Venezuela, José Félix Rivas, identificou na crise econômica uma oportunidade para os países da América Latina redirecionarem e aprofundarem o conceito de integração que inclua seus povos. Rivas alertou contra os mecanismos da crise econômico-financeira, que pode ser um ajuste para iniciar um novo ciclo na economia global. Ele sugeriu iniciativas de integração para que os países do continente sul-americano não percam a oportunidade de criar uma nova arquitetura financeira.

Rivas é um dos palestrantes do seminário Crise – Rumos e Verdades e participou do painel "Crise e a Integração Sul-Americana", na manhã desta quarta-feira (10). Ele defendeu a união dos governos e também dos povos organizados na integração sul-americana. É preciso incluir o povo nesse processo, o que representa a oportunidade de uma integração de fato e não aquela que beneficia os mesmos de sempre, ou seja, "uma integração que desintegra".

O diretor do Banco Central venezuelano sugeriu agilidade em algumas medidas já em curso, como a criação do Banco do Sul e fundos de desenvolvimentos para fortalecer a capacidade produtiva e os projetos sociais. Esses fundos, na visão dele, devem estar desconectados do dólar como moeda e da visão neoliberal, como forma de manter uma América Latina independente e soberana.

Rivas disse que a crise, além de financeira, é estrutural, na medida em que vem possibilitando a manipulação de preços das commodities e do petróleo. Para ele, essa crise pode ser uma oportunidade de fortalecimento da complementaridade em prol do desenvolvimento no continente sul-americano. Se essa integração avançar no plano econômico e político, "teremos mais capacidade de negociação com o mercado externo". Rivas alertou para a possibilidade de estabelecimento de barreiras comerciais.

Defendeu ainda o resgate da política petroleira e a soberania sobre os recursos naturais dos países latino-americanos, como mecanismos de suporte de políticas sociais, a exemplo do que está acontecendo na Bolívia. Outra medida sugerida por Rivas é a nacionalização de atividades estratégicas para o desenvolvimento, que permite aos países atuarem de forma soberana sobre elementos como a água, o subsolo, a vida em geral.

Numa critica radical às instituições financeiras, Rivas defendeu a revisão do papel das empresas transnacionais que atingem nossa soberania. Em contraponto, defendeu o fortalecimento da complementaridade entre os países da América Latina, como oportunidade para avançar na constituição de um bloco regional com capacidade de negociação.

Rivas chamou a atenção para o predomínio do capital financeiro-especulativo e parasitário, que controla, domina e se sobrepõe ao mundo real da economia. Para ele, essa situação demonstra o predomínio do capital fictício sobre o capital produtivo. Rivas citou como exemplo de manipulação a alavancagem do mercado do petróleo, aonde em 2007 um barril chegou a valer 18 barris nos mercados futuros. "Evidentemente a lógica é que o sistema se quebre", afirmou.


Economista recomenda medidas de redução do impacto social da crise - 10/12/2008 18:25:41
O governo Lula está subestimando a crise e deixando de tomar medidas que deveria para reduzir os efeitos da crise mundial na economia brasileira. A avaliação é do professor de Economia Internacional do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pós-doutor em Economia pela University of Reading (Inglaterra), Reinaldo Gonçalves. Ele participou nesta quarta-feira (10), em Curitiba, do seminário internacional "Crise – Rumos e verdades", promovido pelo Governo do Paraná, em Curitiba.

De acordo com Gonçalves, há medidas de contenção de crises que foram formadas ao longo de 200 anos por especialistas e economistas, e que, em geral, não têm sido levadas em conta pelo Governo Federal. O economista destacou que esses "remédios" envolvem intervenção do Estado no aumento da liquidez do mercado, garantia de saneamento financeiro e das aplicações financeiras, estatização do sistema financeiro, controle cambial, indução do consumo e dos investimentos e redução do impacto social da crise.

Em relação ao controle cambial, Gonçalves disse que o Governo Federal está fazendo intervenções leves. "Basicamente, vendeu alguns bilhões de dólares, tem explorado linhas de leilão de crédito. O nosso dinheiro está bancando o risco cambial do setor privado, ou seja, é a degradação dos fundamentos da economia via finanças públicas. Nenhuma intervenção mais robusta no mercado de câmbio. Bilhões e bilhões de dólares têm saído na forma de especulação", afirmou.

Ele disse ainda que o Brasil tenha hoje um passivo externo de US$ 1 trilhão. Descontando as reservas e os investimentos produtivos, o passivo de curto prazo chega a US$ 500 bilhões. "O Brasil tem uma absoluta desproteção em termos de passivo. Além do passivo externo, o Brasil tem um problema que é a deterioração nos fluxos externos aceleradamente", salientou.

NÚMEROS – O economista afirmou que o mundo passa por duas crises. A financeira, de natureza sistêmica, que afeta diferentes agentes, como empresas de seguros e bancos de investimentos; e a crise real, global, que é a recessão, a desaceleração do crescimento e o aumento do desemprego em vários lugares. De acordo com Gonçalves, no Brasil, todos os números e levantamentos feitos apontam que a economia brasileira vai desacelerar significativamente e ser uma das mais prejudicadas em todo mo mundo.

Entre os sinais, destacou, está o que ele classificou como "desempenho medíocre" entre 2003 e 2006, quando o crescimento brasileiro foi em média 3,3%. No mesmo período, a taxa de investimento foi uma das mais baixas do mundo, 16,1%, e a de crescimento do investimento foi de 3,5% ao ano. "Desde 2006, houve aumento de investimento, que teve origem no aumento do crédito do consumo. E o investimento se expande de forma significativa. Esta expansão não é a taxa de investimento, que continua como a mais baixa do mundo", disse.

O economista explicou que esse aumento da taxa de crescimento se deve ao chamado acelerador – o capitalista investe em função do desempenho do ano anterior. "Esse acelerador faz com que, em um ano, a taxa de investimento possa crescer 20% e, em outro, caia 20%. No terceiro trimestre deste ano, essa taxa de crescimento de investimento pode ser de 20% negativo. Isso é o que vai acontecer também em todo o ano de 2009", disse.

"De 2003 para cá, a taxa de investimento do Brasil é uma das mais baixas do mundo, e é compatível com o desempenho medíocre da economia brasileira. Em 2002, a renda per capita representava 80% da mundial. Em 2006, caiu para 75%. O Brasil andou para trás. Em 2007 e 2008 houve recuperação", analisou Gonçalves.

MEDIDAS DE CONTENÇÃO – Para Gonçalves, se o sistema monetário está travado, o Estado tem que aumentar a liquidez, tem que prover créditos para o sistema, o que pode ser feito de diversas formas, como a partir da redução de depósitos compulsórios, da ampliação dos créditos públicos e das linhas de financiamento.

Sobre o saneamento financeiro, o economista destacou que o Estado deve fazer a intervenção antes do "efeito dominó". "Mas é preciso ser ágil, ter um marco regulatório jurídico eficaz. Evitar as concordadas, as falências, as condições de que os agentes possam transferir para a sociedade o ônus das práticas oportunistas é fundamental", disse. "Se o efeito dominó estiver muito avançado, é fundamental a estatização parcial ou total do sistema financeiro, que pode ser temporária ou permanente", salientou.

Outra intervenção que o Estado deve fazer segundo Gonçalves, é no controle cambial. "Quando tem um país frágil, como o Brasil, e há uma crise cambial, tem que ser feita a intervenção. E há dois tipos. A soft, que é quando se vende dólar no mercado, e a hard, que é através da centralização do mercado de câmbio, racionando a mercadoria escassa, que é o dólar", afirmou.

Além disso, disse, o Estado precisa dar garantias aos cidadãos sobre suas aplicações, depósitos e empréstimos. "É comum em tempos de crise que o cidadão que tem o depósito fique preocupado que o banco quebre e a riqueza acumulada em um trabalho árduo de anos desapareça de um dia para o outro. O Estado tem que dar a maior garantia possível, como fez o Governo da Alemanha, que garantiu 100% do depósito das pessoas", comentou.

Nessa mesma linha, Gonçalves destacou que o Governo Federal precisa criar políticas de expansão, como o desenvolvimento de gastos públicos e políticas monetárias que envolvam redução de juros, expansão de créditos e depósito compulsório, por exemplo. "Quando a crise transborda e tem dimensão real, cai renda, emprego e investimento. Essas são formas de puxar a economia via gastos públicos e induzir o consumo e os investimentos. São políticas salariais, monetárias, de créditos, comerciais e fiscais expansionistas", disse.

O economista afirmou ainda que o Governo Federal precise desenvolver políticas focadas na redução do impacto social da crise, principalmente para os trabalhadores e os empresários. "São políticas como a ampliação do seguro-desemprego e de políticas assistencialistas ou refinanciamento imobiliário", citou Gonçalves.

Reinaldo Gonçalves participou da mesa "O Brasil e a Crise", no seminário internacional "Crise – Rumos e verdades", promovido pelo Governo do Paraná, no Canal da Música, em Curitiba. Pós-doutor em Economia pela University of Reading (Inglaterra, 1986), Gonçalves é professor titular de Economia Internacional do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desde 1993. É livre docente em Economia Internacional também pela UFRJ (1991). Gonçalves tem mestrado em Economia pela EPGE-Fundação Getulio Vargas (FGV, 1976) e em Engenharia da Produção pela Coppe (1974), além de ser bacharel em Economia pela UFRJ (1973).


Economista recomenda medidas de redução do impacto social da crise - 10/12/2008 18:25:41
O governo Lula está subestimando a crise e deixando de tomar medidas que deveria para reduzir os efeitos da crise mundial na economia brasileira. A avaliação é do professor de Economia Internacional do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pós-doutor em Economia pela University of Reading (Inglaterra), Reinaldo Gonçalves. Ele participou nesta quarta-feira (10), em Curitiba, do seminário internacional "Crise – Rumos e verdades", promovido pelo Governo do Paraná, em Curitiba.

De acordo com Gonçalves, há medidas de contenção de crises que foram formadas ao longo de 200 anos por especialistas e economistas, e que, em geral, não têm sido levadas em conta pelo Governo Federal. O economista destacou que esses "remédios" envolvem intervenção do Estado no aumento da liquidez do mercado, garantia de saneamento financeiro e das aplicações financeiras, estatização do sistema financeiro, controle cambial, indução do consumo e dos investimentos e redução do impacto social da crise.

Em relação ao controle cambial, Gonçalves disse que o Governo Federal está fazendo intervenções leves. "Basicamente, vendeu alguns bilhões de dólares, tem explorado linhas de leilão de crédito. O nosso dinheiro está bancando o risco cambial do setor privado, ou seja, é a degradação dos fundamentos da economia via finanças públicas. Nenhuma intervenção mais robusta no mercado de câmbio. Bilhões e bilhões de dólares têm saído na forma de especulação", afirmou.

Ele disse ainda que o Brasil tem hoje um passivo externo de US$ 1 trilhão. Descontando as reservas e os investimentos produtivos, o passivo de curto prazo chega a US$ 500 bilhões. "O Brasil tem uma absoluta desproteção em termos de passivo. Além do passivo externo, o Brasil tem um problema que é a deterioração nos fluxos externos aceleradamente", salientou.

NÚMEROS – O economista afirmou que o mundo passa por duas crises. A financeira, de natureza sistêmica, que afeta diferentes agentes, como empresas de seguros e bancos de investimentos; e a crise real, global, que é a recessão, a desaceleração do crescimento e o aumento do desemprego em vários lugares. De acordo com Gonçalves, no Brasil, todos os números e levantamentos feitos apontam que a economia brasileira vai desacelerar significativamente e ser uma das mais prejudicadas em todo mo mundo.

Entre os sinais, destacou, está o que ele classificou como "desempenho medíocre" entre 2003 e 2006, quando o crescimento brasileiro foi em média 3,3%. No mesmo período, a taxa de investimento foi uma das mais baixas do mundo, 16,1%, e a de crescimento do investimento foi de 3,5% ao ano. "Desde 2006, houve aumento de investimento, que teve origem no aumento do crédito do consumo. E o investimento se expande de forma significativa. Esta expansão não é a taxa de investimento, que continua como a mais baixa do mundo", disse.

O economista explicou que esse aumento da taxa de crescimento se deve ao chamado acelerador – o capitalista investe em função do desempenho do ano anterior. "Esse acelerador faz com que, em um ano, a taxa de investimento possa crescer 20% e, em outro, caia 20%. No terceiro trimestre deste ano, essa taxa de crescimento de investimento pode ser de 20% negativo. Isso é o que vai acontecer também em todo o ano de 2009", disse.

"De 2003 para cá, a taxa de investimento do Brasil é uma das mais baixas do mundo, e é compatível com o desempenho medíocre da economia brasileira. Em 2002, a renda per capita representava 80% da mundial. Em 2006, caiu para 75%. O Brasil andou para trás. Em 2007 e 2008 houve recuperação", analisou Gonçalves.

MEDIDAS DE CONTENÇÃO – Para Gonçalves, se o sistema monetário está travado, o Estado tem que aumentar a liquidez, tem que prover créditos para o sistema, o que pode ser feito de diversas formas, como a partir da redução de depósitos compulsórios, da ampliação dos créditos públicos e das linhas de financiamento.

Sobre o saneamento financeiro, o economista destacou que o Estado deve fazer a intervenção antes do "efeito dominó". "Mas é preciso ser ágil, ter um marco regulatório jurídico eficaz. Evitar as concordadas, as falências, as condições de que os agentes possam transferir para a sociedade o ônus das práticas oportunistas é fundamental", disse. "Se o efeito dominó estiver muito avançado, é fundamental a estatização parcial ou total do sistema financeiro, que pode ser temporária ou permanente", salientou.

Outra intervenção que o Estado deve fazer, segundo Gonçalves, é no controle cambial. "Quando tem um país frágil, como o Brasil, e há uma crise cambial, tem que ser feita a intervenção. E há dois tipos. A soft, que é quando se vende dólar no mercado, e a hard, que é através da centralização do mercado de câmbio, racionando a mercadoria escassa, que é o dólar", afirmou.

Além disso, disse, o Estado precisa dar garantias aos cidadãos sobre suas aplicações, depósitos e empréstimos. "É comum em tempos de crise que o cidadão que tem o depósito fique preocupado que o banco quebre e a riqueza acumulada em um trabalho árduo de anos desapareça de um dia para o outro. O Estado tem que dar a maior garantia possível, como fez o Governo da Alemanha, que garantiu 100% do depósito das pessoas", comentou.

Nessa mesma linha, Gonçalves destacou que o Governo Federal precisa criar políticas de expansão, como o desenvolvimento de gastos públicos e políticas monetárias que envolvam redução de juros, expansão de créditos e depósito compulsório, por exemplo. "Quando a crise transborda e tem dimensão real, cai renda, emprego e investimento. Essas são formas de puxar a economia via gastos públicos e induzir o consumo e os investimentos. São políticas salariais, monetárias, de créditos, comerciais e fiscais expansionistas", disse.

O economista afirmou ainda que o Governo Federal precise desenvolver políticas focadas na redução do impacto social da crise, principalmente para os trabalhadores e os empresários. "São políticas como a ampliação do seguro-desemprego e de políticas assistencialistas ou refinanciamento imobiliário", citou Gonçalves.

Reinaldo Gonçalves participou da mesa "O Brasil e a Crise", no seminário internacional “Crise – Rumos e verdades”, promovidos pelo Governo do Paraná, no Canal da Música, em Curitiba. Pós-doutor em Economia pela University of Reading (Inglaterra, 1986), Gonçalves é professor titular de Economia Internacional do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desde 1993. É livre docente em Economia Internacional também pela UFRJ (1991). Gonçalves tem mestrado em Economia pela EPGE-Fundação Getulio Vargas (FGV, 1976) e em Engenharia da Produção pela Coppe (1974), além de ser bacharel em Economia pela UFRJ (1973).


Brasil precisa de um projeto de desenvolvimento para enfrentar a crise - 10/12/2008 18:26:05
Para enfrentar a crise o Brasil necessita de um projeto de desenvolvimento, um plano de soberania nacional com fortes investimentos de longo prazo feitos pelo Estado em habitação, saneamento, transporte, saúde e educação. A idéia foi apresentada pelo economista e professor da Universidade de Campinas, Wilson Cano, na rodada de debates da tarde desta quarta-feira (10), no seminário "Crises: Rumos e Verdades" promovidos pelo Governo do Paraná.

"Nenhum país desenvolvido conseguiu avançar sem uma inequívoca presença intervencionista do Estado Nacional. Tanto em termos internos – seja como produtor, indutor ou estimulador – seja no plano externo por meio de sua diplomacia, de sua moeda ou de sua força armada", disse. "É uma ilusão pensar que é possível crescer e se desenvolver sem a presença decisiva do Estado", acrescentou.

O economista, que foi um dos criadores da escola de economia da Unicamp, lembrou que esse processo já ocorreu entre as décadas de 30 e 80 quando o país soube aproveitar o espaço deixado pelas economias centrais depois da Crise de 1929, com a quebra da Bolsa de Nova York, e da Segunda Guerra Mundial.

"Nós soubemos aproveitar, inteligentemente, as oportunidades. O grau de soberania nacional aumentou consideravelmente nos permitiu avançar e construir um processo de industrialização com êxito em termos de América Latina".

Contudo, alertou Cano, esse projeto passa por uma série de desafios internos e externos que devem ser estudados, aprofundados e abordados. "Desenvolvimento econômico não é restrito ao campo da economia, pertence em grande parte ao campo da política".

DESAFIOS – A retomada do crescimento e desenvolvimento do Brasil como um Estado soberano passa pela eliminação do déficit habitacional (estimado hoje em 8 milhões de domicílios), por mais investimentos em saneamento básico, em saúde, educação e transporte urbano. De acordo com Cano, o cálculo das demandas mostra que não há dinheiro para investir em todos os setores ao mesmo tempo.

"São demandas históricas e não há dinheiro para tudo. Portanto é necessário priorizar, selecionar e escalonar os investimentos no tempo e no espaço", reiterou.

Já nos desafios externos está a necessidade do reposicionamento do Brasil frente às políticas comerciais na América do Sul. "Tem que deixar de pensar apenas em saldos comerciais. Todo mundo quer ter saldo. Mas se quer realmente fazer o processo de integração sul-americana deve ampliar a cooperação entre os países".

Outro problema apontado, inclusive como urgente, é a necessidade da revisão da política comercial com o governo chinês. Cano alerta que a China já se estabeleceu na África com o objetivo de garantir novos mercados para compra de matéria-prima e alimentos.

"Os negócios com a China já terminaram. A China se preparou para a crise e desbravou novos mercados. Avançou sobre o continente africano e ali encontrou uma nova fonte de fornecimento de matéria-prima e alimentos que vai concorrer com a América Latina e pressionar os preços para baixo", completou.


Economistas sugerem intervenção do Estado brasileiro contra a crise - 10/12/2008 18:51:00
O debate desta quarta-feira (10) do seminário internacional Crise – Rumos e Verdades -demonstrou a certeza, inerente aos quatro participantes do painel "O Brasil e a Crise", que a turbulência que afeta o sistema financeiro do mundo todo não é passageira e vai refletir no país ainda por muito tempo. O mediador do encontro, o jornalista César Benjamim, comparou a posição do Governo Federal em relação à crise a um "navio que ainda não ganhou velocidade de cruzeiro".

Segundo ele, este seminário deveria servir de alerta de que o tempo não é indiferente. Ele disse que a crise não vai esperar o tempo que se queira e neste cenário o comportamento errático é o pior que se pode ter. "Podemos ir para o pior cenário eventualmente sem ter capacidade de evitar o pior" disse. Benjamim sugeriu que o combate seja feito com mais agressividade, baseado em coerência e rapidez em todas as frentes. "É melhor estar preparado pelos piores cenários do que ser surpreendido por eles" completou.

João Sicsú, diretor de estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), órgão vinculado ao Governo Federal, classificou tímida o conjunto de ações tomadas pelo Brasil até agora, mas justificou que essa timidez é histórica, principalmente em relação a países como a Rússia e a Índia. "Toda a política macroeconômica e microeconômica adotada por esses países sempre foi muito mais sofisticada do ponto de vista da busca do crescimento", afirmou.

O diretor disse acreditar que o crescimento do Brasil nos últimos dois anos não tem relação com uma onda mundial, já que a maioria dos países registrou uma desaceleração neste período. "A economia brasileira depende muito pouco de suas exportações para explicar seu crescimento. Ela é uma economia fechada. O que explica o crescimento no país é o consumo interno e os investimentos", explicou.

Sicsú listou o aumento do salário-mínimo e o crescimento de concessão de crédito e uma política fiscal expansionista, expressa pelo Plano de Aceleração de Crescimento (PAC) aplicado pelo Governo Federal em setores estratégicos, mudança na arrecadação tributária e a formação de volume de reservas. "Associado a isto uma redução da taxa de juros que se encontra a um patamar mais baixo que em um passado recente", disse. "O número de pessoas empregadas, com seguro-desemprego, garante os gastos no que pode ser o período crítico da crise", explicou. "Nós temos que conjugar medidas monetárias, fiscais e sociais, que tem velocidades muito diferentes. Por enquanto todas elas foram tímidas, mas os efeitos sobre o Brasil foram muito menores do que na Rússia e na Índia", finalizou.

O professor Wilson Cano, doutor em Economia pela Universidade Estadual de Campinas, cobrou aumento de gastos públicos nas áreas de ciência e tecnologia, aliadas a novas políticas industriais específicas de exportação para o desenvolvimento. Ele criticou o modelo neoliberal e sugeriu que se rompa com a forma como é feita a distribuição de crédito no país. "O crédito deve voltar a ser dirigido. A crise oferece oportunidades, janelas que criam graus de liberdades. Sair da crise significa sair do neoliberalismo e reassumir os controles sobre os mecanismos da política econômica. O modelo é incapaz de proporcionar média de crescimento médio e alto em longo prazo", explicou.

"Na questão habitacional, eu não daria dinheiro para construtoras, daria para as Cohabs que constroem casas para os pobres. O déficit habitacional brasileiro é formado por famílias que não ganham três salários-mínimos", disse, para exemplificar a necessidade de créditos dirigidos. Para Cano, ao contrário do que acredita João Sicsú, a economia brasileira é extremamente aberta e dependente do dólar, o que justifica as elevadas taxas de juros. "Ousadia de política o Brasil teve entre 1930 e 1960, quando se controlou o câmbio e onze taxas de câmbio ao mesmo tempo. Eu hoje não vejo ousadia, vejo timidez", afirmou.

O professor Reinaldo Gonçalves, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acredita que o Governo Federal não está enfrentando a crise apenas com timidez. Ele criticou as medidas que vem sendo tomadas em relação à política financeira, como as taxas muito altas de juros. Para o professor, o Brasil está se posicionando no cenário de crise com covardia. "A taxa de juros baixou no mundo todo e aumentou na fonte no Brasil. O Spread foi de 300 para quase 600 pontos. Além da covardia e incompetência, há políticas contrárias ao que um protocolo internacional de enfrentamento de crises recomenda", afirmou.

Gonçalves comparou a segurança do Brasil em cenários de crise a uma "blindagem de papel crepom". "Temos uma economia altamente dependente do resto do mundo. As exportações correspondem a 45,3% do PIB brasileiro. Nossas reservas são pequenas. O problema é que as exportações afetam o número de renda na economia. Neste trimestre é que as exportações deram contribuição zero para o crescimento do PIB. SE as exportações caírem para 20% o PIB cai", explicou lembrando que o país não tem rede de proteção como grandes economias iguais a Alemã, que podem garantir seguros aos trabalhadores. "Dependemos mais dos americanos hoje do que dependíamos antes, por estarmos são atreladas ao México e a China", disse.

O presidente do Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA), Márcio Pochman, credita a crise a um projeto neoliberal, originada pela falta de uma regulamentação, principalmente nos Estados Unidos. Por isso, explica, não acredita que o Brasil vá sofrer os efeitos tão fortes como devem ser nos países desenvolvidos. "Se o Brasil tivesse um governo que desse vazão a esse modelo de forma mais evidente, nós estaríamos muito pior do que estamos hoje", disse.

Segundo Márcio, a experiência brasileira demonstra gastos altos do Governo Federal com o social, direcionado principalmente para os mais pobres. Ele usou o "Bolsa Família" para exemplificar um maior contingente da população beneficiada. "Gastamos somas fantásticas com pagamentos de juros para pouquíssimas famílias. O Governo Lula é um governo de programas, não um governo de reformas", disse. "Ao meu modo de ver a crise não vai permitir remendos. Vamos ter que fazer opções, medidas mais drásticas e mais ousadas", finalizou.


Ampliação de programas sociais do governo minimizaria efeitos da crise - 10/12/2008 15:32:56
10/12/2008
Quarta-feira

Com fotos


CRISE: RUMOS E VERDADES
A solução imediata para a crise no Brasil está nos programas sociais. Esta foi a avaliação feita pelo diretor de estudos macroeconômicos do Instituto Brasileiro de Economia Aplicada (IPEA) e professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, João Sicsú, na tarde desta quarta-feira (10) durante o seminário Crises: Rumos e Verdades, promovido pelo Governo do Paraná, em Curitiba.

"O que nós temos de negativo pode se transformar em positivo. Nós temos uma sociedade extremamente carente, uma sociedade onde ainda existem milhões de miseráveis e pobres. Portanto, a saída para manter a economia brasileira em ritmo de crescimento no próximo ano é ampliar o valor e a cobertura dos programas sociais. Isso é dinheiro colocado na mão de quem tem alta propensão a gastar", afirmou.

Segundo Sicsú, o aumento na renda das famílias é essencial para gerar consumo interno e, assim, fazer crescer a produção e diminuir a dependência do mercado externo. Para ele, neste momento o Governo deve fazer tudo o que pode ser feito para manter a saúde do sistema financeiro e evitar que o setor produtivo quebre.

O economista defende que, apesar de estarem aparentemente sadias, as instituições financeiras brasileiras estão paralisadas. Ele atribui ao Governo o papel de adotar medidas de socorro e precaução, para fazer com que elas voltem a funcionar e façam a economia se movimentar.

Sicsú sugere que, Estado e mercado atuem de forma complementar. Assim, quando o setor privado retrai seus gastos, o setor público avança. "Na crise caem o consumo, os investimentos e as exportações. Nesse momento, é o Governo que deve aumentar seus gastos. Apertar os cintos é suicídio", alertou. De acordo com ele, o Estado deve conjugar atuações de resultado imediatas com medidas de médio e longo prazo, como os investimentos em obras públicas, que teriam impacto em dois ou três anos e complementariam as ações de combate aos efeitos da crise.

"É através de programas sociais que nós vamos resolver o problema em curto prazo. Em longo e médio prazo nós temos que associar a isto projetos de investimento. Digo mais: só um ou outro não é suficiente. Nós temos que seguir os dois caminhos. E nesse caso nós temos espaço e orçamento", afirmou.

O economista acredita que nos últimos anos o Brasil atingiu boas condições para enfrentar a crise. Ele citou como exemplo disto o crescimento do Produto Interno Bruto, das taxas de investimentos, do número de empregos com carteira assinada, do valor do salário mínimo e da produção. "A economia brasileira está numa situação em que nós podemos sofrer um grande impacto dessa crise, mas também podemos sofrer um pequeno impacto. Nós ganhamos, nestes três anos, graus de liberdade para decidir nosso futuro. O Brasil vai escolher a sua trajetória nesta crise", disse.



Economista da Universidade de Oxford critica postura da União Européia frente à crise - 09/12/2008 12:47:45
A falta de uma ação conjunta e mais forte da União Européia – bloco econômico, político e social que reúne 27 países – para conter os efeitos da crise foi criticada por Magnus Ryner, economista sueco, radicado na Inglaterra, e PhD em relações internacionais pela Universidade de Oxford, que abriu a programação da manhã desta terça-feira (9) do seminário "Crise – Rumos e Verdades", promovido em Curitiba, pelo Governo do Paraná.

Conforme explicou o economista, mesmo com a crise sendo a mais séria dos últimos 30 anos, os países da UE não conseguem superar a divisão interna, o que acarreta em estratégias políticas, econômicas e industriais diferentes e por conseqüência aceleram a dependência aos Estados Unidos.

Ryner contestou as afirmações que a União Européia poderia ser um contra-peso ao domínio econômico-financeiro norte-americano. Segundo ele, a UE é muito mais dependente da economia americana do que é divulgado. "Hoje, a estrutura européia favorece a economia norte-americana. Aqueles que previram um contra peso europeu à hegemonia americana subestimam a fraqueza estrutural da Europa", analisou.

Segundo Ryner, a Europa, antes da crise financeira, já vinha de um período de estagnação econômica, com desenvolvimento desigual e uma tendência à desunião das sociedades e dos países. "Além disso, os negócios europeus foram diretamente implicados com a crise", salientou.

Na avaliação do professor sueco, uma das alternativas é uma ampla cooperação internacional que poderia ser liderada pelo G-20 (grupo formado pelas 19 maiores potências mais a própria UE). "Ou ainda pelo fortalecimento das economias do Bric - Brasil, Rússia, Índia e China", acrescentou.

CENÁRIOS - Ryner desenhou ainda três possíveis cenários que podem surgir na União Européia como conseqüência da crise que atingiu as economias mundiais. No primeiro, a Europa se mantém parceira-júnior dos Estados Unidos, na tentativa de reconstituir crescimento global liderado pelas finanças. No segundo, a UE retomaria fortes medidas protecionistas, no que o professor define de "Fortaleza Europa". Já no terceiro cenário, os países europeus poderiam caminhar pra uma democracia social global.


Economista paranaense recomenda a redução do endividamento das famílias - 09/12/2008 14:29:57
Como a crise atingirá as famílias brasileiras? O que fazer para recuperar a economia real, aquela do dia-a-dia? Estas foram algumas questões levantadas pelo economista paranaense Francisco de Assis Inocêncio, nesta terça-feira (9), no seminário internacional "Crise: Rumos e Verdades", promovido pelo Governo do Estado. Segundo ele, estas perguntas ainda não foram exploradas nos diversos debates sobre o tema e devem ser respondidas e pensadas com enfoque nas pessoas mais simples.

"Não basta, em um fluxo real, você recuperar a capacidade das empresas. É fundamental nós resgatarmos e diminuirmos o grau de endividamento das famílias. As pessoas têm que consumir, mas não basta dar capacidade para elas consumirem, se elas estão endividadas. Nós temos que criar meios para que os recursos cheguem de forma direta às famílias, possibilitando a elas fôlego e nova capacidade de consumo", disse.

Inocêncio defendeu que para impulsionar o consumo e frear o endividamento é preciso adotar novas práticas tributárias, mais justas e eficientes. O economista considera que o sistema capitalista e neo-liberal colocou o mercado financeiro na posição de sujeito ativo e, agora com a crise, é preciso fortalecer os Estados e municípios. Ele sugere ações locais de enfrentamento dos problemas financeiros mundiais, com investimentos em infra-estrutura, adoção de políticas de fortalecimento do mercado interno e promoção de ajustes na geração de renda. Ele sugere que a União renegocie com os Estados novos arranjos fiscais, principalmente quanto à exigência dos resultados primários. O que, segundo ele, estaria sufocando o desenvolvimento regional.

MISSÃO: Inocêncio atribuiu ao Brasil a missão de servir de modelo e se colocar no papel de novo agente regulador do fluxo financeiro internacional. Para ele, a experiência do País com a crise de 1929 provou a capacidade brasileira de aproveitar momentos críticos, permitindo a evolução da indústria nacional, da produção de petróleo, minério, ferro e aço e da construção de ferrovias, rodovias e portos.

Dos países emergentes, ele cobrou cooperação com o MERCOSUL e também com países da União Européia. De acordo com o economista, este é o momento das economias emergentes garantirem posição de destaque e diminuírem a redução da dependência em relação aos Estados Unidos e Europa.

Aos empresários cabe, de acordo com o economista, a missão de participar em câmaras setoriais e ajudar na elaboração de alternativas de combate ao desemprego. Ele agradeceu o empenho dos empresários paranaenses com esta visão e os chamou de "heróis da resistência".

Inocêncio solicitou que o Governo do Paraná organize e realize um fórum nacional e multilateral, para a discussão de soluções locais para a crise, junto com a classe trabalhadora e movimentos sindicais. "Governador Roberto Requião, eu sugiro que na sua pessoa e liderança se estabeleça um fórum, no modelo deste, para estabelecermos uma nova ordem no Brasil", pediu.


Cientista político afirma que crise nasceu do modelo de bancos centrais - 09/12/2008 14:41:15
O jornalista, sociólogo e cientista político mexicano Lorenzo Carrasco, afirmou durante sua apresentação, nesta terça-feira (9), no seminário internacional Crise - Rumos e Verdades, que a convulsão financeira atual decorre do próprio modelo de bancos centrais, especialmente a partir da criação, em 1913, do Federal Reserve System, nos Estados Unidos. "Todo sistema de bancos centrais fracassou, aí está o problema. Com as mudanças geopolíticas que virão, quem vai continuar a conduzir o crédito na organização mundial, serão os mesmos?", questionou.

Carrasco sugeriu que os Estados resgatem do sistema bancário privado a prerrogativa de emissão primária de crédito, para fomentar a geração de empregos e ativar a economia. Nessa situação, o sociólogo imagina que a maioria dos contratos de derivativos deveriam ser cancelados e tornados ilegais. Derivativos são instrumentos financeiros, derivados de um ativo real. Há hoje derivativos de ativos como ações, commodities (produtos agrícolas, minerais etc.), câmbio, juros e mais uma série de instrumentos mais "sofisticados" criados pelo mercado. Assim, se definem pagamentos futuros baseados no comportamento dos preços de um ativo de grande negociação no mercado.

A essência dos derivativos consiste na fixação do valor futuro dos ativos em uma determinada negociação e sua finalidade inicial é a de ser uma ferramenta de hedge tanto para quem está comprando, como para quem está vendendo, de acordo com o caso. Um produtor de soja quando vai iniciar seu plantio não sabe em que patamar de preço estará o produto na época da colheita, muitas vezes o preço da soja cai nesse período e o valor auferido com a venda da colheita é até insuficiente para cobrir seus custos.

Carrasco resgatou as idéias do francês Jean-Baptiste Colbert (1619-1683), como exemplo de contraposição ao sistema de crédito baseado na iniciativa privada. "Ele defendia que o regime de crédito deve ser a função principal do Estado. Isso não é marxismo, é justamente a resposta a uma sociedade hegemônica de cunho colonialista", afirmou.

A ruptura dos acordos de Bretton Woods, em 1971, que levaram à desregulamentação do sistema financeiro internacional e seu crescente descolamento dos setores produtivos, agravou os problemas econômicos. "O que estamos vendo é uma sucessão de bolhas financeiras - dos petrodólares, dívida externa, junk bonds, imóveis (Japão), internet, imóveis (subprime-EUA) e a mãe de todas as bolhas, os derivativos", lembrou. Como resposta a esse processo, o sociólogo propôs, concretamente, a centralização do câmbio, controle do fluxo de capitais e a proteção das cadeias produtivas nacionais essenciais para o consumo, o emprego e a produção.

ESTADOS UNIDOS - Carrasco analisou a história do papel dos Estados Unidos na organização mundial. "É preciso lembrar que os americanos surgiram como nação com uma proposta industrializadora, que se contrapunha ao projeto colonial inglês. No entanto, a morte de Roosevelt, em 1945, abriu caminho para a Guerra Fria, que dividiu novamente o mundo em duas áreas de influência coloniais", disse. Carrasco lembrou também que as idéias dos pais fundadores norte-americanos são atualmente eliminadas dos seus currículos escolares.

Os Estados Unidos, segundo o mexicano, tentam manter sua hegemonia atual a partir de três frentes: poder militar, domínio das finanças internacionais e capacidade de moldagem do pensamento predominante entre a população. "No Afeganistão e no Iraque, os EUA estão vendo que está sendo impossível, pela força militar, impor sua vontade. A crise financeira nos mostra o colapso do segundo ponto, e também na capacidade de influência cultural estamos vendo diminuição da influência americana", argumenta Carrasco.

"A própria visão de homem, vigente na sociedade, é algo que tem profundas implicações no modo como nos organizamos. As pessoas não são mais cidadãos ou membros de nações, mas objetos de mercado. É incentivada a idéia da cobiça, cujo objetivo