Xenófobo
Alguém comentou que tenho me comportado, no caso das indústrias automobilísticas como um xenófobo. Um xenófobo é um indivíduo que tem aversão a estrangeiros e a coisas estrangeiras. Posto deste modo, tal atitude parece algo de mau, algo contrario as regras de caridade para com o próximo.
Mas haveria algum verdadeiro motivo para ter prevenção aos “estrangeiros” e seus projetos econômicos? Na verdade há não um motivo, mas muitos.
Primeiramente os de ordem pessoal, pois tendo vivido fora do Brasil, senti na carne todo o desprezo que tem os habitantes do “primeiro mundo” por nós Tupiniquins. Nós jamais seremos “respeitados” enquanto não pensarmos da maneira que querem que pensemos ou que defendamos os seus interesses.
Os outros motivos são de ordem histórica. Quando lemos, por exemplo, a “História Econômica do Brasil” de Caio Prado, e se seguimos todo o seu raciocínio, desde a expulsão pelos franceses da família real portuguesa, até os acordos comerciais feitos com os ingleses para garantir entre outras coisas a recuperação de Portugal, ficamos boquiabertos com a falta de escrúpulos nas relações comerciais destes povos para com o Brasil, fosse ele colônia, reino unido, império ou república.
Lembrando aqui alguns pontos históricos creio que justifico minha aversão aos métodos “estrangeiros”. Por exemplo, dos episódios da história universal dos medicamentos, entre muitos existentes, pincei o famoso caso da “Casca Peruviana” ou quinina, um remédio contra a febre amarela, cujas sementes e mudas foram roubadas pelos franceses de modo a impedir o predomínio comercial dos espanhóis e sul americanos sobre o remédio. Em seguida lembro o caso do ópio envolvendo ingleses com a China, onde os primeiros não tiveram escrúpulos em viciar um povo para manter seus interesses comerciais. Dura realidade. Depois o caso da cocaína, tão bem narrado por Sylverman em “Magic in a Bottle”.
Quem meter-se a estudar a libertação dos povos sul-americanos encontrara os ingleses por detrás dos movimentos, não por verdadeira preocupação pela autonomia destes povos, mas porque, lutando pela independência do Vice Reinos do Novo Mundo tiravam vantagens comerciais que a hegemonia espanhola não permitia.
Já, pós a segunda guerra mundial, os “estrangeiros” quebram o poderio econômico do Brasil com respeito à borracha, numa verdadeira traição dos norte-americanos e ingleses ao acordo de Washington.
Não podemos esquecer os golpes deferidos contra a economia do mate e do café, impedindo a sobrevivência de economias verdadeiramente nacionais. Recentemente a Lei Internacional de Patentes, que o Senador paranaense Roberto Requião tanto denunciou é aprovada com nítidas desvantagens aos interesses nacionais. Hoje nos escandalizamos, ao saber pela imprensa, que plantas medicinais brasileiras e venezuelanas já são patentes de grandes laboratórios norte-americanos. Sim podemos ter as plantas, mas é claro pagando royalty para industrializá-las. Eles chamam a isto competência comercial. Eu chamo de ma fé.
E que tal a entrega da Vale do Rio Doce e seus direitos de lavra? Eu particularmente não esperava outra coisa. O Presidente da República, sem consulta ao Congresso decidiu vender as ações ordinárias da Vale. Colocam à venda por dez bilhões de dólares, valor que, segundo Francisco Schettino, presidente da Vale, não cobre o capital imobilizado nas duas grandes ferrovias que a empresa possui nem nas suas instalações portuárias. Além disso, diz o presidente da companhia: o Vale do Rio Doce possui lavras minerais que superam dois trilhões de dólares e que serão entregues pelo Senhor FHC por menos de um por cento do valor real. Mas quem é FHC? Não é ele o preposto da fundação Rockfeller (você sabe o que isto significa?). Não é ele o maçon. filiado à maçonaria francesa (conforme nos informa um grande jornal de São Paulo) defendendo interesse que de forma nenhuma coadunam com os interesses nacionais? Então o que esperar dele senão a entrega total do Brasil?
Só lembrando, a Vale do Rio Doce, também estava ao alcance do acordo de Washington. O governo brasileiro reassumia as jazidas de ferro reclamadas pela estrangeira Itabira Iron, e em troca mandaríamos soldados brasileiros para a segunda guerra mundial. Hoje, esquecido o sangue derramado devolvemos a “empresa” e pare de nosso subsolo aos nosso patrões internacionais. Diga , não é isto verdade?
Num recente artigo da Gazeta do Povo intitulado “Com a Audi, seremos segundo pólo industrial” o autor cita Phillip Kotler sem dizer que ele é um mercadólogo, um comentarista de marketing, não um homem envolvido com a produção, com os problemas sociais e econômicos advindos dela, mas sim, preocupado com os problemas de mercado. Omite, naquele artigo, propositadamente a verdade sobre o cinturão da ferrugem, a grande favela que se tornou Detroit como obra e vitima da indústria automobilista. Porque então não citar alguns ecologistas como Wallace Oats em Markets for Pollution Control, ou Carlos Minc doutor em economia pela universidade de Paris ou ainda obras panfletárias contra as inescrupulosas ações comerciais com “Small is Bealtifull” que alerta sobre a exaustão do solo e a necessidade de se preservar estrategicamente as jazidas minerais ou obra como: “O Petróleo sem riscos”( não estou certo do título) de autoria do ex.- embaixador venezuelano no Brasil que denuncia trinta anos de exploração de riquezas petrolíferas da Venezuela sem a contra partida social.
Não há nada que me convença de que houve ou haverá mudança dos interesses globalizantes que..., não eu, mas o coronel Roberto Monteiro, ex-chefe do SNI do Amazonas, que chama, em importante documento enviado ao Congresso, este movimento globalizante de neo- colonialismo do capital internacional.
No caso do Paraná a lição é dura. A atitude histórica da Compagnie Géneral des Chamins de Fer Brésilien, que tendo todas as vantagens e garantias de capital, abandonou a obra da estrada de ferro Paranaguá- Curitiba para ser terminada pelo engenheiro Teixeira Soares é um exemplo do pouco caso que os “estrangeiros” tem para com nosso povo.
Pior, muito pior, é a história da Brazil Raiway, que segundo os apontamentos do professor Ruy Chistovam Wachowiscz raia o máximo exemplo da exploração de um povo. A Brazil Raiway tinha o seu capital remunerado com seis por cento de juros, o que já era, para a época, um grande negócio para os investidores estrangeiros. Dobravam estes capitalistas, o capital aplicado, com técnicas de construir o trecho orçado pela metade do valor do orçamento. Evitando todo obstáculo, para baratear os custos, faziam com que a estrada ficasse cada vez mais longa, e com isto desfrutavam de outra vantagem que era a licença para abater as árvores que existissem numa extensão de 30 quilômetros para cada lado da estrada, e o melhor, se não houvesse madeira poderiam intercambiar áreas por áreas devolutas. Para fugir aos problemas de custo com mão de obra, acertam com o governo a imigração de poloneses, pelos quais o governo investe 1200 dólares por família. Passados os anos, sem terminar os troncos projetados, a Brazil Raiway, retira-se por volta de 1930, por lúcida mas tardia pressão política, sem nunca ter cumprido o acordo de incremento e manutenção do material rodante, sem ter cumprido por inteiro suas promessas aos imigrantes europeus, principalmente poloneses e deixando, para o governo federal, 10.000 Km de sucateada malha ferroviária distribuídas pelos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina, sem contar o privilégio de terem sido os proprietários privados dos portos de Santos, Paranaguá e São Francisco. Se hoje temos apenas três por cento da mata de cobertura devemos muito aos bonzinhos estrangeiros que assim vão construindo a riqueza de primeiro mundo. Ainda que alguém defenda que esta riqueza é renovável, grandes áreas de desmate, n!Ao se recuperam sem um programa de reflorestamento, e nisto ninguém pensou. Grande negócio, não é mesmo? Sempre favorável aos estrangeiros.
Hoje, corre pelo Congresso Nacional a convicção de que as novas montadoras, braços das indústrias já instaladas no Brasil, que em nome de novas necessidades, facilidades, empréstimos e incentivos, burlam os protocolos assumidos em acordos anteriores, com, por exemplo, a necessidade de nacionalização do setor, e tornam-se, com alíquotas baixíssimas para importação de peças, quase como Zonas Francas, verdadeiras aduanas fiscais de porto livre, com flagrante vantagem do capital exterior e prejuízo das indústrias de peças nacionais, que em parte, representam genuínos capitais nacionais, e o pior, parece que acobertam inclusive, irregularidade nos empréstimos.
Se os senhores me entendem, só resta quebrar a agricultura, prejudicando as exportações, mudando o modelo econômico para os parâmetros da “indústria internacional de serviços” e, uma vez destruídos os proprietários da terra, no entender do governo, as terras devolutas... porque entregá-las a brasileiros, enfim eles nada fizeram com elas nestes últimos quinhentos anos. E já existem, atentem para o detalhe, multinacionais criando gado sobre extensas áreas de reserva de subsolo.
O Brasil sempre na pior. Agora mais do que nunca servindo o capital globalizado sem fronteiras, que quer e exige novas fontes de matéria prima, globais, liberadas da soberania territorial e comercial dos Estados e FINALMENTE, mercados mundiais sem fronteiras fiscais. Fronteiras mesmo, só ficarão duas; a que separa os países ricos dos pobres e a fronteira que impede a eqüitativa e justa distribuição da renda e dos benefícios sociais. Ou seja, no dizer do G7, haverá nações Principais e Secundárias.
Wallace Requião de Mello e Silva.
Sugestão para pesquisa: Jon Davisson Rockfeller, morto em 1937, rei do petróleo, dono da Standard Oil. Famoso pelo maior “truste” de petróleo do mundo e por ter esmagado seus concorrentes. Ver campos de atuação da Fundação Rockfeller. Ver Andrews e Clark Petróleo.