vendredi 27 mars 2009

Pulso.

Pulso Fraco versus pulso forte.

Escrevo este artigo apenas como uma curiosidade.
Talvez escreva noutra hipótese, para estimular uma futura técnica de diagnóstico, quiçá até uma fisioterapia infantil e uma psicoterapia infantil.

Lembro-me agora, sem precisão, de uma afirmação de Aldous Huxley em um dos seus livros, "A Ilha" ou em "As Portas da Percepção" ou em algum outro livro deste mesmo autor ( Demian, por exemplo), onde, com lucidez, e senso de observação, ele chamava atenção para a necessidade de se radiografar o pulso das crianças recém nascidas a fim de se diagnosticar, entre muitas, aquelas que viriam a ser o que ele chamava de indivíduos Peter Pã.
Para ele, estes "Peter Pãs" seriam indivíduos que viveriam uma "eterna" adolescência, resolvendo seus problemas no campo da fantasia, sem muita objetividade, sem muito senso do real.
Aldous Huxley não disse, mas eu chamo atenção para a figura que se contrapõe ao Peter Pã, coincidentemente o Capitão Gancho, que também tem o antebraço secionado à altura do pulso, onde, tem em substituição à mão, um gancho e faz um tipo perverso e perseverante.
Como todo pirata- símbolo é dono de um olho só.
Ter um olho só, quem sabe, é outro símbolo atávico, escondido na noite dos tempos, que também encontramos na mitologia grega.
Ali, os homens de um olho só são conhecidos como "Ciclopes", e são indivíduos dotados de certa brutalidade e radicalidade das ações justamente por serem dotados de um único olho, e como conseqüência, de um só ponto de vista. Hipótese pisicológica interessante.
Homens de uma so interpretação.
Posto isto, podemos lembrar aqui, que a pré-ciência popular atribui, talvez sabiamente, à expressão "UM HOMEM DE PULSO", a todo indivíduo de qualidade resoluta, dotado de significativa manifestação da firmeza da vontade, do senso pratico, do realismo. Assim também chamamos popularmente a estes tipos humanos de “homens de garra".
Pelo contrário, e no mesmo sentido, todos sabemos o que queremos dizer quando nomeamos alguém como “desmunhecado” (portador de munheca desconjuntada), ou “um mão leviana”, ou” um mão frouxa", ou ainda um "mão boba".
Para Huxley, o Peter Pã era um indivíduo que tinha dificuldade em crescer. Tinha dificuldade de enfrentar a dor de ver-se "solitário" em seu "ego" em processo de amadurecimento, agora já bem individualizado, na consciência de sua alma única, na sua personalidade completa, na sua total responsabilidade sobre si mesmo.
Era assim este Peter (Peter, petrus, pedra) um "Petrus" Pã, ou seja, uma pedra-homem imaturo, um tijolo social com tendência ao Pã, ao fundir-se no"todo", um tijolo que quer ser parede, um portador de orgulho, genético ou de origem infantil, adquirido na provável ausência de frustrações.
Uma personalidade tendente à omnipotência infantil, (omni = todos+ potência). Uma personalidade sempre tendente ao Nirvana (nirvana é palavra hindu que quer dizer "nada", um nada que é o tudo, um nada que é encontrado, segundo o Yogue Ramacharaca, pela anulação do "eu", anulação de nossa vontade, de nossa mente diferenciada conhecida como Maia). Assim um Peter Pã é um indivíduo tendente a fundir-se no tudo e ser tudo, negando-se ao processo de individuação, horrorizado pela visão de sua própria pequenez. Vive e apega-se a onipotencia infantil. É interessante notar, como mais uma curiosidade, que cada vez que Peter Pã ouvia o seu "Sininho" ( alerta) fazia uso do "pó" de pirimpimpim que o fazia voar em um mundo de fantasia.
Quero lembrar ainda que Pã seja um demônio mitológico, ou como querem alguns, um deus menor, um deus de pastores que sopra (no sentido do respirar) a flauta que leva o seu nome... e tem pés bífidos como o dos bodes, símbolo do papel sexual mal resolvido ( bi-fido= bi, partido). Simples curiosidade.
Afora isto, tenho notado, no exercício da psicologia aplicada, sem poder quantificar, que é comum entre os alcoólatras e os viciados em drogas, encontrarem-se indivíduos portadores de "pulso fraco", munhecas frouxas, desmunhecados, tanto no sentido psicológico como no físico, donde, talvez, poderíamos, até, estabelecer uma hipótese relacional, um paradigma entre o fenômeno físico e psicológico característico dos tipos tendente à adição. (ver Eduardo Calinas em Droga-adição).

Ora, o ébrio, sempre me pareceu, nada mais, nada menos, do que o indivíduo que quer fundir-se, submergir-se (embriagar-se), esquecer-se de si, de seus limites, de sua ineficiência, de suas dores. Quer voltar à mãe num sentido bem amplo (aqui também, no sentido físico, tanto como no simbólico). Quer ser bebê, ou mal comparando quer beber, saciar-se numa oralidade fixa e circular, numa respiração angustiada e suspensa, numa necessidade de seio e colo, onde a vontade, e a vergonha, não lhe pertencem. Ou, noutro sentido, o ebrio quer "respirar", ou "inspirar" (no sentido do respirar profundo) o "todo", inspirar ou introjctar o todo (ver José Ângelo Gaiarça em A Estatua e a Bailarina). Voltar à mãe (terra ou cósmica) que é, num sentido bem amplo, o mesmo que voltar ao Pã (pã-noramico sentido de não ser limitado), ao Nirvana, ao nada, ao tudo, e fundir-se por não agüentar a dor de ser... E ser único.

Um ser absolutamente responsável per si mesmo e pelo seu porvir (ver Frederick Pearls em "Gestalt Therapy Verbatim") é o ser amadurecido.
Enche a cara, o ebrio, porque se apavora com o vazio de sua pequenez individual ( cara pequena, vazia). Por não agüentar a responsabilidade de Ser e a conseqüência de Ser. O vicio, todo vicio, é o oposto da virtude. Aos viciados faltam-lhes assim, quase sempre, o amadurecido sentido religioso e moral (o religare = ligar-se de novo, o que só é possível depois de desligar-se da onipotência infantil, na individualidade plena). E,
Moral porquê lhe falta pulso nas questões envolvendo responsabilidade. Falta-lhes assim o sentido da consciência mística e real da "Segunda Pessoa na Santíssima Trindade". Ou seja, o Deus que se fez limite, mara amadurecer os homens. Desconhece o Deus objetivo, pessoa e indivíduo, humano e divino, feito carne, e padecente.

Fico pensando com meus botões, e proponho aos colegas terapeutas médicos, aos psicoterapeutas ou aos fisioterapeutas infantis, e aos professores de educação física, principalmente a estes últimos, que, invariavelmente, desenvolvem fina sensibilidade para detectarem estas características anômalas nos jovens "dependentes", ( dependentes em amplo sentido, dos pais, dos amigos, das drogas) que ponham atenção ao fato, e proponho a desenvolverem um tipo de teste e uma medida do pulso infantil, e é claro uma estratégia terapêutica e uma pedagogia fortalecedora da vontade.
Intuo “que aí tem", como se diz.
Pergunto? Haveria mesmo esta relação?
Ela é demonstrável e mensurável?
Poder-se-ia estabelecer experimentalmente um paradigma psicológico desta intuição sobre o fenômeno "pulso fraco"?
Haveria uma característica anatômica, óssea, ou de tonus muscular, capaz de denunciar indivíduos propensos ao vício; ou estabelecer relações com a pisicologia tão característica destes indivíduos impossibilitados de viverem a própria maturidade e responsabilidade?
De qualquer modo é hipótese diagnostica muito interessante.

Por outro lado nós cristãos sabemos o que significa no sentido religioso "impor as mãos". Ora, pode-se dizer que, num sentido bem pouco restrito, impor as mãos é o mesmo que escolher, acolher, curar, construir, mudar, apoiar, apontar.
Então, se alguém ficou interessado pelo tema, "imponha" mãos à obra, e com pulso firme. As dificuldades surgirão, e lembrem-se: mãos e pulsos fracos, oralidade forte, seguida de irritação e agressividade, moralidade relaxada, seguida de dependência quase viciosa de sexualidade catártica; e, acrescida de episódios de pavor injustificado, e problemas respiratórios... Indicam "ego" tendente à desestruturação. ( tendência não é fato consumado).

Wallace Requião de Mello e Silva
Psicõlogo Texto de 1997